Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

Forever Young

Tu serás para sempre uma miúda. Porque os nossos são sempre bebés. Porque os nossos nunca crescem.

Ainda me lembro do dia em que me foram buscar à escola mais cedo porque a nossa prima tinha resolvido nascer no dia do meu aniversário. E, no final do mês, a Raquel já vai fazer 21 anos.

Mas tu paraste no tempo. Tu vais ter sempre 23 anos. Não, 21. A idade que tinhas quando deixaste de ser tu e foste obrigada a ser outra. Obrigada a crescer sem crescer, levada a lutar para viver, decidida a engolir lágrimas e dores. Obrigada a sofrer o pior sofrimento de que há memória,  recebendo numa bandeja a crónica de uma morte anunciada.

Não vais ser mãe como o teu amigo Ruben foi pai.

Não vais escolher casa e acabar por ficar a morar na mesma rua que eu como a tua Martinha.

Não vais andar por esse mundo fora a decidir se queres tratar de cavalos como a Sara ou andar de volta de cães e gatos como a Lise. Não vais poder levar a tua avante e dedicar a tua vida às vacas.

Não vais escolher um vestido de casamento, andar aflita com a escolha das ementas e em paranóia porque os convidados não confirmam a tempo e horas.

Tu vais ser sempre a minha pirralha. Vais ser sempre a minha miúda. Vais ser para sempre a nossa bebé. Porque tu paraste no tempo. E serás forever young.

Sem angústias e sem mágoas.

16 Discussions on
“Forever Young”
  • Um abraço, Me. Que seja um dia de homenagem aos bons momentos que tiveram – é como costumo passar os meus 26 de outubro.
    (Linkei este post, em modo de referência, ao meu último post. Se não gostares, tiro, obviamente).

  • Admiro muito a tua (vossa) capacidade de lidar com a perda! Só quem vê alguém morrer de cancro é que sabe a dor que é, mais que a perda em cima, doí lembrar o imenso sofrimento por que passaram…
    A minha sogra lutou 6 anos contra um cancro, 5 anos de sofrimento! O último mês e meio passou-o a vomitar praticamente todos os dias (de noite), o não vomitar era uma alegria, no IPO já pouco faziam nada, nesse tempo foi lá 4 vezes e só na 4a é que a internaram. Esteve lá uma semana e depois (já não podiam fazer mais), mandaram-na para casa. Das 4 vezes fizeram tentativas para ver se não vomitava… No último mês já não se levantava, tinha cãimbras terríveis, por não se alimentar, andou a soro, já vomitava a cheirar a fezes… Na última semana, enquanto a levavam para fazer a higiene desmaiou e o médico já não lhe sentia a pulsação, disse-nos que provavelmente não passava desse dia! Mas ela ainda aguentou uma semana, já não falava, só gemia e abria/fechava a boca para beber, mas a maioria das vezes fechava a boca porque não queria… No último dia decidiu-se leva-la ao IPO (de ambulância claro), saiu já parecia morta, no IPO tiraram-lhe o soro e disseram que os rins já estavam a parar, que não valia a pena estar-lhe a dar líquidos, que era esperar… Resta-nos as palavras da enfermeira, qualquer coisa como “Já lhe demos morfina, não se preocupem que ela não está a sofrer, não tem consciência, mas sente as coisas, sentiu a picada porque gemeu, sente a vossa presença, mas não nos ouve/compreende…” Difícil entender isso! Pode não ter sofrido as últimas horas, mas sofreu, sofreu muito!

  • Lamento muito a dor pela qual a Nídia teve de passar e com a qual toda a família teve de lidar mas é de louvar a abordagem positiva e otimista com que continuam a honrar a memória dela vivendo as vossas vidas da melhor forma possível. Muita coragem para ultrapassar este dia!

  • Que bonita homenagem. Agora fiquei aqui com um apertãozinho no coração. Esta doença deixa sempre um rasto tão doloroso. E o tempo nem sempre ajuda, não minimiza o sofrimento. Enfim… Um beijinho grande e que continues com essa força exemplar.

  • Não te conheco pessoalmente apenas do pouco que dás a mostrar neste teu blog que acompanho meses antes da tua irmã falecer fiquei presa nas tuas palavras tive que ler desde o inicio desde então já chorei , já ri mas acima de tudo admiro -te muito a ti e à tua familia, sortudos daqueles que convivem convosco diariamente, sortudos de vós por terem convivido com a pessoa especial que era a Nídia, sim todos à nossa maneira somos especiais mas não é qualquer um que enfrenta uma morte anunciada na flor da idade e apesar do sofrimento aquele brilho no olhar transmite uma serenidade, as palavras que deixou quem as lê não fica indiferente dá-nos força e alento em parte foi a pensar em vocês e nos amigos para vos consolar e vos confortar naqueles momentos em que aperta mais a saudade, acho que és uma irmã fantástica pois através de ti a Nídia está presente em muitas vidas sem ser a vossa familia e amigos e não imaginas que apesar de hoje já ter chorado pelas lindas palavras que li retiro delas uma serenidade e uma união que apesar de invisivel toca-nos até ao fundo da alma. Um beijo – Sílvia

  • Me,
    Acompanho o blog desde o início da doença da tua mana e fiquei arrepiada mais uma vez ao ler as tuas palavras. Penso na minha irmã e sinto um aperto no peito. Que lição de vida és para nós (tal como a tua família, tal como a tua mana foi).
    Um beijinho bem grande

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