Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

a metáfora da pedra (e da vida)

Quando quem amamos adoece, assim de adoecer a sério, de pensar(mos) na eminência da morte… Cai de repente uma pedra em cima do nosso peito. Ao mesmo tempo que nos tiram o chão, atiram-nos com um pedregulho para cima. Tramado. E é uma pedra tão pesada que cada inspiração é esforçada. É custosa. É sofrida. É uma pedra que não nos deixa respirar fundo. Nem fundo, nem assim assim. Só conseguimos manter aquela respiração leve. Superficial. Apenas o oxigénio suficiente para nos mantermos vivos. E depois a pedra é-nos arrancada outra vez. Não, não quando nos estamos a habituar porque ninguém se habitua a respirações de passarinho. Arrancam-nos a pedra outra vez. Afinal a morte não está lá longe. Estava já aqui ao lado e chegou agora. E quando chegou tirou a pedra. Mas não a levou com ela. É que a pedra, ao invés de estar em cima do peito, passa a estar pendurada no coração. É a pedra da dor da saudade. É a pedra da dor do amor que nos tiraram. Desenganem-se. Não desaparece nunca. Não vai embora nunca. A pedra da dor estará sempre lá. Sempre juntinho do nosso coração como está quem amamos e entretanto morreu. E da mesma forma que esse amor ficou para sempre imutável no momento da morte, a pedra da dor também vai ter sempre o mesmo tamanho. Vai sempre pesar o mesmo. Mas, o balão que é o nosso coração, tem uma elasticidade infinita. O amor que o distende não tem fim e o coração vai atrás e não rebenta nunca. E o bonito desta metáfora é isso mesmo, quão mais cheio de amor estiver o balão do coração, mais fácil se torna carregar a pedra da dor. A dor que tem o mesmo tamanho. A dor que pesa igual. Mas que vai ser carregada com menos esforço. Porque a vida é assim, uns morrem, outros nascem. E se com a morte de uns aparece a dor, com o nascimento de outros surge o amor. Que enche o balão do coração e ajuda a carregar a pedra da dor.

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