Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

A bipolaridade da (minha) maternidade (à vista dos outros)

Grávida de 33 semanas.

Para quem ainda não esteve neste estado baleiês ou casado com alguém nesta condição (e não é profissional de saúde), quer isto dizer que estou grávida de 8 meses. Faltará um mês e meio para a criança nascer, mais coisa menos coisa.

(Ficam já a saber também que quem criou o mito que diz que a gravidez dura 9 meses nunca esteve grávido.)

Há algumas semanas (várias e largas semanas) que sou diariamente confrontada com a questão “Então e quando é que vais para casa?”… Oi? “Vou para casa quando a criança quiser nascer que isto não se planeia ou prevê” – e do lado de lá começa a cair o Carmo… “Então e não vais descansar??? Olha que depois dele nascer não descansas!”… E, quando começo a tentar explicar que isso do descanso não é propriamente um bem cumulativo e armazenável, cai definitivamente a Trindade. Ou o queixo da pessoa.

Eu sei que a maioria das mulheres vai para casa aos 8 meses de gravidez, muitas aos 7 e umas quantas – e infelizmente nesses casos já normalmente por questões de saúde mais preocupantes, mais cedo. E tudo bem. Se eu me arrastasse, se estivesse com os pés inchados ao melhor estilo Fiona ou se não chegasse com os braços ao volante por conta da barriga, provavelmente não teria outra alternativa. Não dependia de mim. Provavelmente, depois da semaninha de férias no final do mês, ia à minha vidinha e não voltava. Mas por enquanto (e espero que assim se mantenha), depende de mim. É verdade que já não estou fresca e fofa. Subir as escadas no escritório já não é como era antes (mas continua a ser uma decisão minha preferir as escadas ao invés do elevador). Apertar as sandálias de salto demora quase o triplo do tempo (mas lá está, continua a ser uma decisão minha preferir as sandálias de salto ao invés das havaianas). A vontade de cozinhar ao final do dia é nula (por isso abençoados restaurantes e entregas ao domicílio – e as panelas de sopa de entulho que peço à avó) e as noites a visitar o WC são maravilhosas. Posto isto e considerando que tenho zero vontade de estar em casa antes da criança nascer – por várias razões, inclusive de foro profissional, lá vou tentando passar um Arnidol imaginário por muitos queixos esfolados (e para pais de primeira viagem fica já a dica – se há alguma coisa indispensável nas mochilas dos putos quando deixam de ser vegetais – aí aos 5/6 meses de idade para os mais mexidos, é Arnidol).

Mas, voltando ao tema das reacções, bom bom é quando as pessoas descobrem que vou fazer licença prolongada. Ui! “8 meses em casa? Como? Por quê?” Encarno o demo (ou a fada dos dentes –  depende da perspectiva imaginária mais ou menos romantizada de cada um) em forma de mulher! Depois de cair o Carmo, cai então a Trindade, o queixo bate no chão, fura a crosta terrestre e antes de bater na Nova Zelândia ainda passa ali pelo Taj Mahal.

E é este o grau de bipolaridade com que me deparo diariamente…

Estar 8 meses em casa, incluindo 3 a olhar para o tecto porque estou grávida e grávida que é grávida não trabalha até à criança nascer, tudo muito bem, tudo muito normal, tudo muito óbvio, tudo muito aceitável (corrijo – expectável).

Estar 8 meses em casa a tomar conta do meu filho, que nunca mais volta a ser bebé, totalmente dependente de mim, permitindo-me fazer o que diz a OMS – aleitamento em exclusivo até aos 6 meses (praticamente impraticável quando se vai trabalhar aos 5 meses), conseguindo não o enfiar numa creche no pico do inverno e quiçá com alguma ginástica familiar até adiar uns largos meses essa entrada, ui! isso é que não! “8 meses em casa? Como? Mas tu és alguma dondoca? E o emprego? A tua equipa? A tua chefia?” Benzadeus que no meio destes queixos partidos não estão incluídos os destas pessoas, chefia e equipa (felizmente, a um nível mais próximo, estou rodeada por gente sã).

Só vos digo, é a loucura. Mas como é que alguém decide assim ficar 8 meses em casa a tomar conta do filho? Como? Olhem não sei, nem sei explicar, só os digo que foi uma decisão tão difícil mas tão difícil que entre perceber que existia esta possibilidade e comunicá-la a quem de direito, não passaram 24h. Um horror de decisão. Dúvidas, muitas dúvidas. Difícil…

 

[Pijama giro da Sfera já para os dias no hotel hospitalar]
4 Discussions on
“A bipolaridade da (minha) maternidade (à vista dos outros)”
  • Acho que todas as grávidas passam por essa bipolaridade. No meu caso fiquei em casa aos 8, porque a obstetra dizia que eu tinha o útero muito em baixo e que o bebé podia nascer antes do tempo, …. pois nasceu com 41 semanas porque provocaram o parto 😉 Já estava farta de estar em casa, se pudesse bem que teria trocado esse mês para depois, fiquei 7 meses depois dele nascer e foi muito bom, pena não poder ser mais… Sabes o que digo, agora, porque à 11 anos “gramava” com todas essas opiniões… nós é que sabemos o que é melhor para nós e para o bebé e os outros que se “lixem” mais as opiniões deles… afinal, ninguém lhas pediu não é?

    Beijinhos e que corra tudo bem

  • Adorei o post – estou grávida de 6 meses tive dois sangramentos no início e Tb toda a gente me pergunta qd vou para casa. Estive apenas 3 dias de baixa no início. É verdade que os dias terminam mais cansativos mas realmente fico neurótica em casa. Mas outra coisa será ficar em casa já com a minha bebe no colo. Pode dar me mais informações sobre essa licença de 8 meses? Está prevista na lei ou trata se apenas de um previlegio que a sua entidade patronal lhe dá? Obrigada Ana

    • Olá Ana, é a licença prolongada prevista na lei. 5 meses pagos a 80% mais 3 meses pagos a 25% que podem ou não ser gozados exclusivamente pela mãe ou pelo pai.

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