Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

A Nídia morreu. Só isso.

Não se foi. Não faleceu. Não desapareceu. Morreu. Com tudo o que isso significa (e com tudo o que não significa também).

Mas esta noite a minha cabeça entendeu que não. E o meu coração, palerma que só ele, foi na balela.

Esta noite a minha cabeça achou que ela estava viva. Ali. Viva. Sentada à mesa. A conversar. A rir. A comer. A dizer que já não estava doente. Que não podia estar. Que não se sentia doente. Que já não era mais capaz de estar doente. E o meu coração, palerma que só ele, foi na conversa. Palpitou. Acelerou. E acordei. Nervosa. Ansiosa. Em frangalhos.

É verdade. Ela já não está doente. Ela já não é mais capaz de estar doente. Acabou. A doença acabou. E ela morreu. Porque não conseguia mais estar doente.

Morreu. Não desapareceu. Nunca.

Está aí. Ou aqui. Não sei. Sei que anda por aí. E sei que por vezes se cruza comigo. É quando os frangalhos se juntam e eu volto a ser uma. Inteira. E é quando a minha cabeça vai na conversa do coração. E não o contrário.  É quando a minha cabeça escuta e percebe aquilo que o meu coração lhe diz. “Ela está morta. Só isso. Não desapareceu. Nunca.”

10 Discussions on
“A Nídia morreu. Só isso.”
  • Acontece-me tantas vezes quando sonho com a minha irmã, que ela volta não se sabe bem de onde, mas senta-se à mesa, conversa conosco, diz que está bem e pergunta nos o que temos feito, é tudo demasiado real, e depois quando acordo… a chorar de felicidade por ter conseguido estar um bocadinho com a minha irmã, um bocadinho de mim. E quando sinto os abraços dela, é demasiado bom! Mas ela morreu, apenas isso, porque sei que estará sempre por perto, tal como a tua irmã:)

  • Nunca comentei o teu blog, mas hoje não consegui deixar de o fazer.
    Este texto simplesmente tocou-me. Já perdi algumas pessoas, mas nunca tão próximas como no teu caso e simplesmente admiro a forma tão racional como lidaste com tudo isto e as palavras bonitas que tens e continuas a exprimir para a tua irmã.
    A verdade é que sempre ouvi dizer que uma pessoa só desaparece, quando a mandamos embora do nosso coração…e tenho a certeza que isso nunca irá acontecer com a Nídia. Ela irá estar sempre nos vossos corações 😉
    Beijinhos

  • Estou a achar a coincidência quase grande demais. Esta noite a minha mãe também esteve comigo, normal, feliz, saudável. Caramba, custa acordar depois de uma noite assim. Mas se conseguirmos ir buscar esse sentimento bom que estas pessoas tão próximas nos trazem, é porque nada realmente se perde. Um beijinho grande Me

  • Adorei o texto Me!!
    Adorei cada palavra que escreveste!
    Eu sinto o mesmo em relação ao meu avô!! Ele morreu sim, mas não “se foi”!!! Ele continua aqui ao meu lado na mesa, quando vou a conduzir ele vai no banco do pendura, quando estou a dar aulas tenho-o lá ao fundo a olhar para mim, quando estou na sala ele está sentado no sofá ao meu lado…. Ui, tanto lugar em que ele está sempre ao meu lado!!

    Kiss***

  • é tão bom sonhar de vez em quando com os nossos que já morreram 🙂 daqueles sonhos em que a cabeça sabe que não estão ali, connosco, porque morreram, mas o coração manda-a calar, e por um bocadinho isso basta

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