Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

A Culpa é das mulheres*

*não digo A Culpa é nossa porque não compactuo com isso

A culpa é das mulheres.

Das que criam (criaram, criam e continuarão a criar) homens que vêem as mães a fazer tudo. Ou porque o pai não se chega à frente e não faz ou porque – pior ainda, “quando faz, faz mal”. Que faça. Algum dia há-de fazer bem. São elas – estas, as responsáveis. Culpadas. Porque permitiram, permitem e continuam a permitir – fomentando até, esta mentalidade.

Se há alguma mulher que pode afirmar não imaginar a sua vida sem o homem que tem ao lado, essa sou eu. Por quê? Eu nunca fui mulher (adulta, entenda-se) sem ele ao meu lado. Estou prestes a fazer 35 anos e estou apaixonada pela mesma pessoa há quase 20. Não concebo a minha vida sem ele. Já vivi mais tempo com ele do que sem ele. Da mesma forma, não concebo outra existência com ele que não esta. Cá em casa somos dois. Temos os dois contas para pagar. Temos os dois carreiras com que nos ocupar. Temos os dois filhos para criar. Temos os dois uma casa para gerir. Eu não ajudo a pagar contas. Ele não ajuda a tratar da casa. Nós pagamos contas. Nós tratamos da casa. E dos filhos. E, acima de tudo, um do outro. De nós. E, temos pena – muita, mas se assim não fosse, não me manteria ao lado dele. Nunca. Por razão alguma. Por amor nenhum. Mil vezes “introduzir precisamente essa palavrinha de quatro letras que estão a pensar” na cama, que sopeira na cozinha. Jamais.

Lembro-me desde sempre de ver a minha avó em casa. Salvo o período em que tiveram um negócio no centro de Lisboa, a minha avó sempre esteve em casa. O meu avô trabalhava. Muitas vezes em três sítios diferentes. E, quando chegava a casa já fora de horários normais, punha a mesa para almoçar, aquecia a sua refeição, comia, dava, se fosse necessário, o almoço à neta mais velha (eu), levantava o prato e lavava a sua loiça. Eu sei, eu sei que o meu avô é feito de uma massa diferente, eu sei que é. Mas só digo isto porque era efectivamente uma forma de estar muito peculiar para a época e para a educação costumeira.

O meu pai mais diferente, igualmente participativo. Um limpava, o outro ia ao supermercado, um fazia o jantar, o outro ajudava com os trabalhos de casa.

Repito. A culpa é das mulheres, que permitem e perpetuam. Por isso, numa sociedade em que não há dependência financeira ou de outro tipo, deixem por favor de partilhar e propagar estereótipos e chavões. Esses de que as mulheres são umas mártires das quais dependem casas e crianças e de que eles são homens das cavernas que não sabem onde fica a máquina da loiça. Isso já não existe. Existe? Isso é um chavão. Não é chavão? Acontece mesmo aí em casa? Eles não limpam, deixem a trampa chegar ao tecto que vão ver se não limpam (ou pagam a quem limpe). Eles não arrumam as meias que descalçam, deixem-nas acumular até que a gaveta fique despida de meias. Eles não mudam? Então façam-se à vida e mudem vocês que casaram para viver o amor da vossa vida e não para se tornarem empregadas domésticas. À borla. Há muitos homens por aí. E não são todos iguais.

(Só não contem é com o meu.)

 

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