Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

Bullying e educação começam em casa.

Há pouco passei os olhos por um desabafo sobre brinquedos que vão para a escola e que se perdem. Responsabilidade da escola ou das crianças? A maioria dos comentários aludiam à impossibilidade das escolas fazerem ou terem responsabilidade sobre qualquer tipo de controlo e imputavam essa responsabilidade às crianças que levam os brinquedos. Foi igualmente referida a diferença colégio versus escola. Pública, entenda-se. E, esclareço, mães. Estamos a falar de mães.

E é aqui que eu viro e percebo que afinal não devo ser uma mãe como as outras… porque estou de tal forma contra tais comentários e teorias que fiquei agoniada.

Isto não tem nada a ver com escolas ou colégios, mas sim com organização e educação. De crianças e adultos.

Até há um ano a minha filha esteve num colégio pequeno, onde nada desaparecia porque todos se conheciam e conheciam os brinquedos de todos, ou seja, não era necessária grande gestão. O espaço era pequeno, pequenas eram as crianças, não havia buracos no chão por isso nada desaparecia.

No ano passado, como sabem, a Maria transitou para um colégio com uma dimensão significativa e até hoje nada se perdeu. E se a Maria leva brinquedos para a escola. Livros, Nenucos, Pinypons, you name it. Por um lado, os meninos não tiram brinquedos uns aos outros (e se tiram resolvem-no – ou entre eles ou com a mediação de adultos), por outro, o colégio tem “caixas de brinquedos” em dois ou três sítios definidos (que adultos e crianças conhecem) onde são colocados os brinquedos “perdidos” encontrados por adultos ou crianças. Não são raras as vezes que antes de passarmos o portão para sair, lá vai ela a correr ao refeitório buscar o boneco do dia.

Mas o mais importante e que contraria a opinião maioritária que li, é que mais do que caber aos pais ensinar aos seus filhos que devem controlar os seus brinquedos, os pais devem assegurar que ensinam que não devem tirar os brinquedos dos outros. E isto não li em comentário algum. Todas, reforço, todas as mães achavam que se deve é ensinar os meninos a cuidar dos seus brinquedos. Claro. E ensiná-los que não devem mexer ou tirar os brinquedos dos outros sem autorização? Nenhuma referiu isso. Nenhuma. Porque não calhou ou porque não faz parte das suas preocupações?

Sem mudar de tema, mas mudando o objecto da discussão, enquanto a mentalidade for como tantas vezes escuto “ainda bem que ele é dos que dá e não dos que leva”, não vamos a lado nenhum. Com a história dos brinquedos ou da pancada. A realidade é que já dei por mim a ralhar com a Maria porque levou uma palmada e não deu outra a seguir (felizmente nunca aconteceu em âmbito escolar). E isto está errado. Eu não tenho de educar a minha filha ao contrário do que educo porque os outros não educam os seus filhos. Se lhe digo que não se bate, não lhe vou dizer que bata porque lhe bateram. Mudei o meu discurso com ela. Se se sentir agredida, incomodada ou ofendida e não conseguir resolver o tema sozinha (sem bater) deve recorrer a um adulto. Daqui a 3 anos, quando tiver outra maturidade logo verei o que lhe digo. Por enquanto é isto. Não é (só) a minha filha que não tem de levar brinquedos ou estar com particular atenção aos mesmos. Os outros é que não têm de roubar. Sim, roubar. Ou partir. Não é a minha filha que tem de bater porque lhe bateram. Os outros é que não têm de bater.

O bullying e a falta de educação começam em casa. E quando leio tantos comentários que demonstram esta total despreocupação de mães de crianças de 5 anos que quando vêem vídeos de adolescentes a serem espancados ficam chocadíssimas, questiono-me em que altura da vida julgarão elas que devem educar os seus filhos.

O bullying e a falta de educação começam em casa.

3 Discussions on
“Bullying e educação começam em casa.”
  • Concordo plenamente Vanessa. Ensinar os nossos filhos a serem boas pessoas, a não maltratarem os outros, no fundo, fazê-los ver quando agem mal, que não gostariam se fosse com eles, não custa. A sério que não custa ensinar a ser o mais humano possível, se também nós o formos.

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