Nós somos o nosso pior inimigo. E isto não é uma frase feita. Não é um chavão.
Acreditava piamente, ainda antes de ser mãe, que não devia roubar mais do meu tempo a dois (ou a muitos, em família ou com amigos) para fazer desporto. O tempo que “perdia” no trânsito (que no nosso caso é significativo) e no escritório, era o meu máximo. E não era desculpa. Eu nunca gostei de praticar exercício e por isso não precisava de desculpas. Eu não praticava desporto porque não queria ponto.
Eu era a miúda que passava todo o ano lectivo de atestado (porque os médicos também preferiam não resolver as minhas limitações e era mais fácil fazer a vontade à gaiata que até tinha falta de ar e anemia crónica). Era aquela que na natação chegava ao final da pista, apoiava um braço e ficava na palheta com os que iam passando até ouvir um berro do treinador.
Ainda algures na adolescência percebi que gostava de correr e tentei alimentar esse gosto, mas não sabia nada sobre corrida, não havia o acesso fácil que há hoje à informação e correr não era moda, não sendo por isso fácil desenvolver o hábito. Não desenvolvi e perdi completamente.
Já mais crescida, andei no ginásio. Durante a faculdade e depois disso. Sempre acompanhada mas sem companhia, ou seja, sempre com alguém mas nunca em aulas de grupo – que nunca foram e continuam a não ser a minha cena, sempre na sala de máquinas sozinha comigo mesma. Entretanto parei e parei mesmo.
Nos últimos anos não fiz nada e é aqui que entra a lengalenga ali de cima – não querer roubar tempo a nada nem a ninguém. Até que percebi que se não começasse a fazer nada, um dia destes virava um bloco de gelatina, tão mole que era (sim, já posso utilizar o pretérito imperfeito) a minha consistência.
Voltei a correr. Sem grande regularidade e sem grandes objectivos. Descobri o Pedro, fiz um treino teste e percebi finalmente que havia algum tipo de exercício que eu até tolerava. Mantive e percebi que afinal não roubo tempo a ninguém. Percebi que ganho, ganho mesmo muito. A minha filha não perde nada quando vou treinar, “só” porque vai o avô buscá-la ao colégio. Pelo contrário. O meu marido não perde nada quando vou correr porque corre comigo também ou vai andar de bicicleta com a filha ou vai fazer o que bem lhe apetecer. E a energia? A energia que tenho é cada vez maior! E com isso ganho eu e ganham os meus também. Isto da vida saudável até pode ser moda e eu nunca fui muito de modas e cantigas, mas a alinhar num qualquer movimento da moda, então que alinhe num que só me faz bem e que transmite o exemplo que quero à minha filha.
“Mãe amanhã também vou correr contigo, sim?”