Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

O tempo, esse sacana

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O tempo que quando falta chega a doer… o tempo para se fazer, para se dizer, para se sentir. O tempo para amar, para ser amado, para ser… feliz.

O tempo que quando sobra chega a doer… porque lembra do que não se fez, do que não se disse, do que não se sentiu. O tempo em que não se amou, em que não se foi amado, em que não se foi… feliz.

Sei, com a certeza de quem viveu na primeira pessoa aquilo que escreve, que para ser feliz é preciso deixar de pensar no tempo. É preciso viver o tempo presente. É preciso não lembrar o passado. É preciso não pensar no futuro. O tempo de viver e ser feliz é este e agora.

Quando se vive em pleno (ou se tenta) não se tem tempo… não se tem tempo para lembrar o passado que não foi feliz, não se tem tempo para esperar por amanhã para ser feliz. O tempo, esse sacana, só chega para viver. Não dá para mais, escorre-nos entre os dedos, escapa-nos em minutos contados…

Estou sem a minha filha e não, não tenho tempo para pensar em saudades. E se não depende de mim não sentir saudades (que sentirei), só depende de mim não pensar nelas. É uma aprendizagem continuada (e forçada) aquela a que a morte da minha irmã levou, a de sentir saudades sem as buscar, sem as deixar invadir o meu pensamento. Que invadam o meu coração, o meu coração que lhes pertence, que é delas por direito reconhecido. Mas não penso nelas. Não me permito pensar nelas. Não arranjo tempo para pensar nelas. Não é não viver o luto. Não é fechar a sete chaves aquilo que magoa. Não é adiar o inadiável. É não convidar. É não buscar o que magoa. É que aquilo que magoa, ao contrário do tempo que nos foge, nunca desaparece. Está lá sempre. E às vezes aparece sem ser convidado. E quando a saudade invade, não lhe bato a porta na cara. Deixo-a entrar, essa maldita que nunca vem de mansinho e, sem pensar nisso, permito que ocupe o meu coração. E sinto. E lembro.

Choro a saudade. Escrevo a saudade. Vivo a saudade. No instante em que ela vem, o meu coração e o meu pensamento são dela. Mas se ela não aparece, não a procuro. Não a busco. Não penso nela. E se não penso nela, não a vivo. Basta-me viver a vida. E não a saudade.

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