Às vezes gostava de me desligar, deixar de acompanhar, não ajudar e ignorar, deixar de ler e, sobretudo, deixar de sentir o que sinto, essa estranha e genuína sensação de “saber o que é isso”, de uma verdadeira e infeliz cumplicidade. Apagar essa malfadada empatia.
Gostava de não sentir o cheiro da morte. Gostava de não reconhecer sintomas, números e palavras escutadas. Gostava de não repetir a angústia do por quê e para quê tamanho sofrimento para chegar a esse final que deixa aqueles que cá ficam desesperados, com vontade de contrariar a gravidade.
Mas sei, porque já o vivi, que fechar os olhos, desligar, ignorar e não sentir, não faz sentido. Seria ignorar uma realidade muito real e que pode ser a lotaria de qualquer um de nós ou dos nossos.
Poderíamos dizer que é mórbido, de loucos, quiçá masoquista, no extremo louvável, como já ouvi, eu digo apenas que é a minha faceta usurpadora… conviver diariamente com estas vidas, mais do que relembrar-me a dor que vivi (que não precisa ser relembrada e que não deixa nunca de ser vivida), mantém-me agarrada à realidade, relembra-me a todos os instantes a efemeridade da vida, não me deixa esquecer aquilo em que acredito, não me deixa dizer “vai-se andando”.
Obriga-me a viver.
Obriga-me a ser feliz.
Continue, com força!
Os seus leitores pedem-no…
É por isto e por muito mais que gosto de te ler, por me identificar com esta ideia de que a vida não é para se ir levando, é para viver, hoje, aqui! Independentemente das dificuldades e dores que vão aparecendo na vida…
E é isso, a palavra viver diz tudo. Sê feliz, muito!
Sei bem do que falas, infelizmente.
Já pensei em ajuda psicológica, mas não sei…
beijinhos
SJ
Adorei as tuas palavras.
Bj
Ana
Espero sinceramente que ninguém esteja doente. Um abraço!
Fabuloso este post. Adoro a tua força de viver e o teu positivismo por detrás de todos os cenários negros. infelizmente tenho tendência para o negativismo, mas penso que as perdas que vivi têm de facto de me lembrar para ser feliz. Porque o sou.
Obrigada
Me,
Acompanho o seu blog há bastante tempo… Li este texto, e porque já vivi e senti o que escreve, deixe que lhe diga que está Fantástico, transparente e único. Reflecte emoções e sentimentos que quanto a mim são únicos de quem os vive, até porque “o essencial é invisivel aos olhos”
Continue assim!!
Senti um arrepio ao ler este texto. Já tive de viver de perto um processo de doença prolongada de um familiar (o meu pai). O que começou com um tumor nos intestinos complicou-se em todas as suas possibilidades e como ele já era doente crónico de diabetes em 2 anos e meio passou de um homem normal, que fazia a sua vida toda, a ser totalmente dependente de terceiros para todas as actividades do seu dia-a-dia. Foram-lhe amputadas ambas as pernas e ficou numa cadeira de rodas. Custa-me muito lembrar tudo o que passou, ele e nós que nada podíamos fazer, mas também me agarro a isso para perceber que temos de nos agarrar à vida e viver sem apenas “ir andando”.
A tua forma de viver é e será sempre uma inspiração, muitas vezes dizes que muitos não te entendem… eu entendo porque me parece que tive uma educação semelhante à tua e os meus pais têm a mesma força e forma de viver. Quando leio este texto não posso evitar ficar triste mas, apenas por um instante porque tal como tu acredito que desligar nunca é a solução e são estas coisas que nos obrigam a viver e a ser feliz.
Um beijo grande querida
Querida Me, és uma grande grande mulher!! Beijinho muito grande