Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

Aquilo que já escrevi e que (ainda) é tão verdade

Sou feliz? Sou.

Tenho momentos maus? Tenho.

Tenho momentos difíceis? Tenho.

Atentem no substantivo utilizado. “Momentos”. E não “dias”.

Tenho instantes tristes que se perdem no meio de tantos outros tão mais felizes.

Tenho instantes tristes que se esquecem no meio de tantos outros tão mais felizes.

Não me rendo. Nunca me rendi.

A minha mãe diz que nunca me viu ser pessimista. Que nunca me viu ter outra postura que não “ver sempre o copo meio cheio”.

E a felicidade também está nisso. Alguém que só vê o copo meio cheio consegue ultrapassar muito mais facilmente os momentos tristes. Por isso mesmo, porque eu vejo momentos, não vejo dias, nem vejo períodos extensos.

Se tive muitos momentos tristes enquanto a Nídia esteve doente? Tive. Bastantes. Mas foram momentos tristes no meio de tantos outros tão felizes. E muitos desses momentos felizes foram até criados por esta calamidade nas nossas vidas. A felicidade de ver que somos uma família como há poucas. A felicidade de ver os amigos com todas as letras grandes (e não apenas o A) que a Nídia e eu temos. A felicidade de aproveitar sempre todos os dias e instantes bons e verdadeiramente felizes.

E o parágrafo anterior diz muito de mim e da minha vida. Reparem que sempre que falo em tristeza a Nídia é ponto comum. E a verdade é essa. Até ao dia que ela adoeceu, eu fui sempre uma pessoa feliz. Não me recordo de momentos tristes. Chatos, alguns. Mas tristes, não.

Sim. Era feliz. Muito feliz. E não conformada, como poderão algumas almas entender.

Éramos uma família super unida. Super feliz. Sem problemas nenhuns.

Não havia doenças na família.

Não havia problemas monetários.

Sempre fomos boas alunas e miúdas mais ou menos certinhas.

Tínhamos um grupo de amigos óptimo e namorados ainda mais espectaculares.

Tivemos sorte em tantas coisas. Coisas pequenas do dia-a-dia e coisas importantes.

E havia amor. Muito amor.

E não será isso quanto baste para se ser feliz? Se há quem ambicione mais do que isto, então lamento, será uma procura infrutífera.

Se há quem não acredite que é possível tamanha felicidade ou conjectura de traços optimistas, então lamento, porque está equivocado.

Se hoje tenho momentos difíceis? Tantos!

Mas, no instante seguinte, recebo um mail da tia, uma sms da prima, um telefonema da melhor amiga, um feed sobre um assunto que adoro do melhor amigo, um jantar romântico, um comentário de uma perfeita desconhecida…

E o momento triste vai-se dissipando… até que o próximo chegue. E nessa altura, terei de certeza uma chamada da mãe para ir almoçar com ela. Uma sms amorosa da avó. Um e-mail maluco do amigo.

Só se sente a falta do que já se teve.

E por saber o que é ser plenamente feliz, procuro ignorar os momentos não felizes e focar-me tão só e apenas nos outros.

Os muito felizes.

E esta é apenas mais uma forma de viver. De ser feliz. E de sofrer também.

26 Discussions on
“Aquilo que já escrevi e que (ainda) é tão verdade”
  • Tens toda a razão. Também tenho momentos mais tristes, tenho complicações, mas sou feliz e sempre positiva. E olha que nunca tive a vida facilitada…

  • Como eu te admiro. Gostava tanto de pensar assim e de ver a vida dessa maneira.
    Como é que o fazemos quando os problemas são mais que muitos, quando parece que nada corre bem na nossa vida?
    Gostaria de dizer que tenho poucos momentos maus e muitos muitos bons, mas há alturas em que o que vejo é que tenho muitos momentos maus e que os bons não conseguem superar.
    Dava anos da minha vida para ter esse optimismo.
    Desculpa o desabafo.

    Desejo-te o melhor do mundo porque sente-se que é uma boa pessoa, e quem diga o contrário é porque a única coisa que sente em relação a ti é dor de cotovelo.

    Bjs.
    Sónia

  • Acho que é uma forma de viver e de encarar a vida.
    Também penso assim. Não sou monetariamente favorecida, não tenho uma família unida e muito menos muitos amigos a rodear-me de mimos que tanto preciso. No entanto, aquilo que tenho chega-me perfeitamente para ser feliz. Também já tive imensos problemas na minha vida e ela mudou a partir do momento que a encarei de outra forma. Sermos nós próprios é suficente para sermos felizes. Não vale a pena procurar a felicidade no exterior porque ela vem de dentro. Há pequenas coisas que nos podem fazer tão felizes. Como já disse num comentário anterior, basta valorizar cada aspecto positivo da nossa vida mesmo que sejam poucos. E tudo se transforma. E o amor, sim, esse é o mais importante. Não precisa ser o grande amor da nossa vida, basta o amor de um irmão, da mãe, de um amigo. Coisas pequenas que nos fazem tão felizes.
    E com isto já fazia um post…
    Beijinhos e continua como és.

  • Aqui há tempos escrevi sobre isso. Escrevi o mesmo que tu, mas por outras palavras, é claro. Eu já fui muito pessimista, já fui muito ‘agarrada’ às tristezas, o que só piorava. Até que a vida me deu uma bofetada tão grande que acordei e passei a ter outra postura: mais otimista, mais alegre… Desde então que sou muito mais feliz. Sim, também tenho momentos menos bons, mas são apenas isso (e como dizes muito bem), momentos. Os mais felizes superam estes e é neles que me concentro.

    Beijinho ♥

  • Ola. Sigo o teu blog à imenso tempo e nunca comentei. Nao sei porquê. simplesmente lia, identificava me ou nao… mas gostei sempre muito. Hoje enquanto passava por aqui a procura de algum conforto encontrei estas tuas palavras. Preciso tanto ver a vida assim. Fui sempre feliz. Uns dias mais, outros menos mas fui. faz hoje 3 meses enterrei um sobrinho lindo de 12 anos. Deitou se e nao mais acordou. E nao consigo Me. Nao consigo ver assim as coisas. Sinto me num caminho sem regresso. E nao tenho forma de ajudar aquela que mais ajudou até hoje sempre. Em todas as circunstacias da minha vida e que perdeu literalmente a alegria de viver. Minha irmã e a mae dele. Como se aprende? Como é que se vive e nao se sobrevive?

    beijinho

    • Dizer que não se consegue é meio caminho andado para não se conseguir.

      Tens de acordar e ir buscar a energia que a tua irmã merece. Que o teu sobrinho merece. Que a tua família merece. QUE TU MERECES.

      Acreditar MESMO que ele não gostaria de vos ver assim.

      Não sei se a tua irmã tem outros filhos. Mas terá marido, terá pais, terá sobrinhos. Tem-te a ti. E tem-se a ela própria. E, tendo filhos, continua a ser mãe. Continua a ser a mãe deles. Como continua a ser a mãe do teu sobrinho que perdeste.

      É nisto que têm de acreditar. Que é possível ser feliz. SEMPRE

      Um beijo enorme

      • Fez agora 12 anos que Ela se foi, e dizer que se consegue ultrapassar…eu não consigo. Eu tento, eu procuro da maneira mais absurda ultrapassar. Que ela foi viajar e que nos encontramos um dia destes. Mas não é fácil, NADA! Eu sei onde ela está, sempre moramos ao lado uma da outra, mas hoje ela está do outro lado da igreja, e não do lado que deveria estar. Por isso admiro muito quem consegue ultrapassar uma dor que não passa e que me mata aos poucos. Mas a vida é assim e mais dia menos dia estaremos juntas de certeza…

  • Gostei imenso do texto! Apesar de ser uma perfeita desconhecida para ti gosto de acompanhar as tuas peripécias. Acho que és cheia de força e o deves continuar a ser procurando nas pessoas mais chegadas o conforto que o desconforto causou em algumas situações. 🙂

  • Tu és uma mulher forte. Perdeste a tua irmã e essa dor nunca se vai apagar… mas caramba, tens um marido que parece espectacular, uma filhota valiosa, uma família que te ama. Tens motivos de tristeza, clara, mas parece-me que tens ainda mais motivos para a felicidade. 🙂

  • Concordo. Palavras tão verdadeiras. e de repente senti saudades de tempos passados. Sou uma saudosista, não há como evitar. Mas o passado ainda pode ser um escape para a felicidade, e para tristeza também. Depende de nós.

  • A Vida é mesmo feita de momentos e a felicidade, de todos aqueles que são menos bons.
    Ter uma familia assim é uma benção. Mas tu agradeces todos os dias por isso, e fá-lo por manter esse Amor sempre actual e em movimento crescente. Assim é a tua Vida, e assim espero que te sorria sempre, nos intervalos dos maus momentos, porque tu mereces. bj**

  • Obrigada Me!! Quando nos ultimos dias o caso acaba sempre por me levar as lembras de quem me faz tanta falta, o teu texto, ajuda a sorrir, e a pensar positivo mais uma vez!!! Ás vezes és uma espécie de Fadinha!!! :)) Beijinhos e obrigada!!

  • Me, não tem nada a ver com o post (btw, partilho completamente da tua filosofia de vida) mas deixo uma sugestão: sei pelo facebook que o teu marido está numa dieta de sucesso:), não queres fazer um post com o tipo de refeições e combinações que estás a fazer? Gostava muito de tirar umas ideias light:)
    beijinhos
    Manuela

    • Manuela,

      Assim que ele chegar ao fim da dieta apresento o plano. (e a conta também… para teres uma ideia, 3 semanas e meia de dieta já custaram perto de 700 €)

      Bisouxxx

  • Como entendo estas palavras…
    E cada vez mais me tento agarrar a elas…
    Perdi o meu Principe – sobrinho á 3 meses para uma doença oncologica…E tento ver o lado ” positivo”, tento sorrir e procurar sorrisso que nos enchiam a alma…
    Não nem sempre é facil Mas tenho uma DEusa que precisa e Merece o Melhor de Mim! ESSE lado bom da vida, o lado cor de rosa… que me enche a cada dia!!!

    Obrigada pelas linda palavras que hoje foram o suficiente para me encher a alma.

    beijo

  • Concordo taaanto contigo!… respiro tantas x fundo, em momentos menos bons, que depois se vêm a mostrar tão ridículos… és a maior 🙂
    Bjss e bom resto de semana
    Teresa.

  • Sabes, gosto imenso deste blog, desta leveza, de encontrar pessoas que têm motivos para não ser totalmente felizes mas são tão naturalmente, tão assim, como tu, optimista.
    Obrigada por presenteares a blogosfera com boas energias e por mostrares que é possivel haver felicidade :)*

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