Às vezes é um pedido de ajuda.
Noutras ocasiões, mais esporádicas, mera curiosidade.
Por vezes aparecem respostas a uma questão que não coloquei, em jeito de confronto quando não ataquei. Por mensagem. Cara a cara. Nas redes sociais. De amigos, desconhecidos, familiares. “Isso da felicidade que não existe. É uma moda, uma mania de que todos temos de ser permanentemente felizes”. (Não temos. Mas devemos.)
Como é que é isso de estar, ser, apregoar,… a felicidade?
Repito. Não sou guru. Não pretendo ser. Não tenho mantras ou frases feitas bonitas. Não pretendo ter. Não dou workshops. Não pretendo dar. Não sou terapeuta ou especialista. De nada. E muito menos disto da felicidade.
Sou especialista da minha vida. De mim. Dos meus.
Se sempre fui assim? De sorriso fácil, de viver feliz, de espelhar leveza? Não tanto. Mas bastante. A vida mudou(-me)? Gosto de acreditar que a vida, mais do que mudar, molda, aprimora, corrige e lima arestas.
Perguntam como. Como viver com esta leveza? Como ser feliz? E às vezes – muitas vezes, como viver depois da morte? Depois de uma desgraça?
É verdade. A doença da minha irmã foi uma desgraça. A morte dela mais ainda. Ninguém merece morrer com 23 anos. Ninguém merece sofrer ininterruptamente durante dois anos para morrer. É uma desgraça. É uma tragédia. É o pior pesadelo. É tirarem-nos o chão e de repente querer ter ar para respirar e não conseguir. É ter uma dor tão grande que não se consegue acreditar que tamanha dor exista. É a maior (e pior) sensação de inutilidade. É valer nada. É uma saudade que dói. Mesmo quando nos faz sorrir. É uma desgraça.
Mas a vida é isto. A vida é feita de desgraças. Todos os dias. Em todos os instantes. E ser feliz é nunca esquecer que a desgraça está ao virar da esquina. E que, precisamente por esse motivo, não devemos viver com medo, sobrevivendo, devemos sim viver enquanto a desgraça não chega.
Porque maior desgraça que a morte – venha ela cedo ou tarde, não existe… Viver é tão bom e é tão lindo e é tão perfeitamente imperfeito que ser feliz é simples. Basta não esquecer que temos de ser felizes agora… porque se não fomos ontem, já não podemos voltar atrás e, amanhã… amanhã poderemos já cá não estar. E isso não é uma desgraça. Não é uma tragédia. Não é um pesadelo. Isso é a vida. Sendo perfeitamente imperfeita.
E para ser feliz é só isso que importa. Estar vivo é uma bênção. E isso não é cliché.