Há dezanove anos, nas férias de Natal.
Foi há dezanove anos nas férias de Natal. Não me recordo do dia exacto mas lembro-me que – ao contrário da minha habitual pontualidade britânica, cheguei atrasada. Aliás, muito atrasada. Sei que estava em casa da minha avó e demorei bastante mais a chegar de metro ao Colombo do que esperava. Se calhar não te lembras, mas entrámos em quase todas as lojas de miúda e quando escolhi uns ganchos prateados cheios de glitter e outros burgundy giros giros na Parfois, atravessaste-te e ofereceste-me os ganchos. (Eu fazia colecção de ganchos lembras-te? E às vezes – muitas vezes, saía de casa com a colecção completa na cabeça!) Falei como se não houvesse amanhã. Como acontece sempre. Eu falo. Tu ouves. Lembro-me do filme que fomos ver (segunda vez para ti que já o tinhas visto) e sei que foi a primeira vez que partilhei as minhas pipocas… Dezanove anos depois continuo a não gostar de partilhar as minhas pipocas. Regressámos a casa de comboio – acho que saí na estação do Oriente para regressar aos meus avós e, dei-te um beijinho na cara. Ainda não sabia bem o que é que queria e – percebi mais tarde, aquilo era mesmo um encontro mas eu andava um bocadinho a léguas. A leste do paraíso. Tão perspicaz para umas coisas e para outras… Uns dias depois chegava o ano novo. E o resto da nossa vida…