Levantou-se e foi tomar um duche. Virei-me para o lado e fiz de conta que não ouvia o Rodrigo a falar consigo próprio no berço. E a dada altura devo ter deixado mesmo de ouvir porque voltei a adormecer. Ou a dormitar. Percebi que ele pegava nele para o deitar ao lado da Maria como faz todos os dias enquanto prepara o pequeno-almoço. Acordei de um sono não profundo quando entrou no quarto para me chamar para comer. Prometo a mim mesma que quando saírem vou tentar dormir. Ela, que adora comer mas que nunca foi amiga de pão ao pequeno-almoço, come duas torradas de pão de centeio da Gleba como poucos adultos. Ele continua a falar sozinho. Desta feita na espreguiçadeira ao nosso lado enquanto comemos e ouvimos as notícias. Vou ajudar a Maria a arranjar-se enquanto ele acaba de se vestir. O Rodrigo continua a falar consigo próprio. Sozinho na cozinha enquanto a vida continua cá em casa. A Maria diz que não quer que a vá buscar à natação. O pai diz que não sabe se consegue ir buscá-la ao colégio. Antevejo um final de tarde com uma drama queen a reclamar quando eu aparecer na piscina. Abrem a porta de casa e ela vem a correr (a andar depressa, vá!) dar um (vários) beijinho ao mano. Vou mudar-lhe a fralda e ele já está à espera da primeira compressa com água da Uriage na cara. Ainda não percebi se gosta da humidade ou do meu sopro imediato. Dispo a camisa de dormir que vesti só quando me levantei, deito-me na cama e ele já sabe que é a vez dele. Quatro minutos e dez segundos de mama. Quando escrevi a primeira frase deste texto estava ao meu lado a reclamar com a fralda de pano. Dorme profundamente.
O dia, igual a tantos outros, já começou.
Que bonito texto! 🙂
Obrigada Marta!!!