Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

A minha mãe, antes do Dia da Mãe

Eu nunca pensei “raios, quando for mãe não vou ser nada igual a ti!”. Nunca.

Nem mesmo durante aqueles anos loucos da adolescência em que, juntamente com as hormonas, baixou em mim um qualquer espírito demoníaco e conseguia discutir com a minha mãe descontroladamente e por razão nenhuma (e deixar o resto da família lá de casa a sentir-se na Faixa de Gaza) dia sim, dia sim. Juro. Dia sim, dia sim. Com direito a portas batidas e gritos ouvidos na rua.

Mesmo durante essa guerra fria que durou uns 2 ou 3 anos, era incapaz de não partilhar tudo da minha vida com ela, por isso, quando oiço alguém dizer que “há coisas que não se contam aos pais”, penso sempre que esta malta anda equivocada.

A minha mãe não se mete na minha vida. Não se mete porque faz parte dela. Falo com ela todos os dias ea toda a hora. Por mensagem ao longo do dia. Por telefone duas, três, quatro vezes. Se preciso dela, preciso e pronto. Na hora. No minuto. No segundo. Não acho nunca que estou a pedir nem sinto nunca que me está a ajudar. Sempre me fez sentir que o que faz é porque esse é o papel dela enquanto mãe, não é uma obrigação, não é uma ajuda, é o que tem de ser.

A minha mãe é a maior. Dirão todos que são todas. A minha mãe é mesmo a maior. Já passou pela pior pena (e passa) da vida enquanto mãe e não deixa de ter sempre e todos os dias um sorriso nos lábios para toda a gente, uma palavra de apoio ou motivação, disponibilidade para ajudar tudo e todos.

A minha mãe ficou com a minha filha em casa até aos 15 meses. Perguntavam-me “não trabalha?”. Trabalha pois. Numa empresa, com responsabilidades e horários a cumprir. Entendeu que a neta precisava dela (e precisava mesmo) e ficou em casa com ela durante esse período. Depois, voltou a ser pessoa – além de mãe e avó, e regressou normalmente ao trabalho.

A minha mãe perdeu uma filha. Durante dois anos não saiu um segundo do lado dela. Para nada. Respirava o mesmo ar. Sentia, via e ouvia o mesmo que ela. A minha irmã morreu e uma semana depois a minha mãe foi trabalhar. Porque ser a mãe que ela foi e é para nós, é estar para nós sempre. Só para nós e por nós. Não para os outros.

Eu sou mesmo o que a minha mãe fez de mim. E espero que nisto que ela fez, tenha feito com que eu seja um décimo da mãe que é.

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