[Alerta: este texto vem no seguimento de uma “discussão” na página do blog no FB]
Não se medem dores. Não se comparam sofrimentos. Mesmo em situações aparentemente semelhantes não se consegue fazê-lo porque existe um sem fim de factores externos, historiais e outros que condicionam cada história.
Sou filha, sou irmã, sou mãe. Não imponho a minha forma de ser filha, irmã ou mãe a ninguém.
Não vou bater à porta de ninguém a vender workshops sobre como viver a dor ou fazer o luto. Não tento colocar-me nunca no lugar de ninguém, sobretudo quando não vivi na primeira pessoa tal situação. Até porque a perspectiva que temos quando observamos, ainda que a um nível muito próximo, nunca pode ser comparada com a de quem a está a viver. Não pode. Não temos esse direito. E custa-me muito pensar que existe quem pense que tem.
Aceito opiniões sem ofensa, maldade ou falta de educação. Da mesma forma, sem ofensa, maldade ou falta de educação, assumo que tenho o direito à minha opinião.
Por isso sim, direi sempre que, de acordo com a minha forma de viver, de ser filha, irmã ou mãe, será sempre um egoísmo se algum dia me atrever a verbalizar que sofro mais com a dor da minha mãe, da minha irmã, ou da minha filha, do que elas próprias. Em momentos muito difíceis passa-nos tudo pela cabeça e pelo coração. Somos egoístas, egocêntricos, carentes. E temos direito a sê-lo. Mas, conscientemente e fora desses momentos de irracionalidade (e durante os quais só temos a obrigação de guardar esses sentimentos de egoísmo, egocentrismo e carência para nós), não consigo conceber que racionalmente se verbalize que se sofre mais que o sofredor. Não consigo. O sofredor esconde, disfarça, omite. Mas não posso compreender que se possa ser inconsciente ao ponto de pensar que uma criança de 7 anos não sente dor, não sabe o que é a morte ou não tem medo. Tem. Muito. Mas é mais forte do que a maioria dos adultos e tem uma capacidade infinita de sonhar e de criar um mundo encantado.
E para ressalvar, porque direccionámos isto para crianças, mãe é mãe. De um bebé, de uma criança, de um adolescente, de um adulto. E, no sentido lato e grandioso de todo o conceito do que é ser mãe, mãe sofre. Muito. Mas não pode consciente e racionalmente acreditar que a sua dor se sobrepõe à do filho. Na minha forma de viver e de acordo com a minha educação, não tem pura e simplesmente esse direito. Mas lá está, este é o meu modo de viver, de pensar e de sentir e que foi totalmente condicionado pelas minhas vivências e pela educação que me deram. De acordo com as vivências e educação de terceiros, poderão acreditar que têm esse direito. E tê-lo efectivamente. Eu, mais do que acreditar, sei que não o tenho. Seria um desrespeito pelos meus pais, pela educação que me deram e sim, pela minha irmã e pela minha filha.
É por estes posts que eu gosto de te ler… porque me revejo imensamente nas tuas palavras!
Beijos para ti!
Simplesmente perfeito Me…
Me, digo mais: o primeiro sentimento de medo que um bebé tem é precisamente o da morte e o do abandono, está no ADN, é o instinto básico de sobrevivência sem o qual nenhum de nós estaria cá hoje.
Olá!
Acompanhei ‘a polémica’ no facebook e realmente este assunto tem muito que se lhe diga… Sinceramente não tenho uma opinião mesmo formada acerca disto, porque só quem passa por elas é que sabe e eu graças a Deus nunca passei por uma situação dessas e espero nunca vir a passar… Acho claro que quem sofre mais é mesmo quem tem a doença e ponto! A mãe sofre, claro, despedaça-se aos bocados por ver a situação do filho e isso muitas vezes tolda a razão e acha que ELA é a mais sofredora… Mas pronto, acho que com isto já fui dizendo o que acho… Mas estas observações são sempre difíceis de dar estando ‘de fora’ e não gosto nada quando leio comentários radicais como se achassem que é assim mesmo que tem de ser e quem achar que não é assim está mal… Enerva-me profundamente!
Beijinhos Vanessa*** muita saúde para nós e para os nossos filhotes é o que desejo sempre e acima de tudo!
Não acompanhei a discussão no FB mas concordo com cada palavra que escreves.
http://www.prontaevestida.com
Concordo plenamente Me… Infelizmente é de uma prepotência ou necessidade de vitimização aquelas mães que acham que conseguem sofrer mais do que o próprio filho que tem a dor, que tem a doença, que tem a possibilidade de não chegar a sua mãe ou pai porque a doença pode levar a melhor…. Se mãe/pai/irmão/avó/avô sofre??? Muito!!! (ou pelo menos deveria… é sinal que há laços e afectos). Se sofre mais que o próprio??? Nunca… chega a ser ofencivo perante o doente tamanho narcisismo….
Obrigada por esta opinião tão clara de quem sabe o que é o sofrimento, de quem sabe o que é sofrer e de quem sabe respeitar estas duas vertentes do lado duro da vida.
Um grande beijinho
Quando oportuno vê a entrevista que passou este sábado, no programa Alta Definição. Reforça tudo o que escreveste…
Parabéns por essa forma de vida!
http://sic.sapo.pt/Programas/altadefinicao/2014/03/30/alta-definicao-com-manuel-forjaz
Tão bom este texto, Me!
Um grande beijinho*
Adoro ler-te assim, profunda, sincera, correta.
Obrigada Me!