Em qualquer instante da vida, qualquer pessoa que se dedique a esse processo de desabafo a que habitualmente chamamos escrita, terá um momento de leviandade… Porque não podemos ser sempre sérios, correctos, imparciais, precisos. Somos humanos. Erramos. Falhamos. E sim, também escrevemos com leviandade.
Por vezes pode roçar a barbaridade, outras não tanto. Às vezes é propositado, outras é inconsciente. Mas todos estamos sujeitos a incorrer nessa falha – humana. A palavra dita não volta atrás… mas sim, é mais facilmente esquecida do que a escrita.
Todavia, o perdão, a capacidade de relevar, também devem ser inerentes ao ser humano. Saber acomodar essas escorregadelas de alguém que apreciamos, além de ser bonito, é, acima de tudo, necessário para saber viver. No entanto, existem desabafos, ou opiniões que transcendem a leviandade, entram em campos que não podem ser lavrados, invadem temas muitos sensíveis e magoam como balas…
Assim, passando a um estado de pragmatismo e deixando-me de divagações longas e romantizadas, venho dizer o seguinte: quando se tem leucemia, não há momentos bons, não há momentos de descanso, não se vem cá acima respirar. É sempre duro, é sempre sofrido, é sempre angustiante. Vai daí, tudo aquilo que possa dar qualquer espécie de boost de energia positiva, é particularmente importante. Só eu sei o que senti, enquanto familiar, quando ouvi da boca da médica “há um possível dador”. Eu presenciei o resultado dessa frase no doente – a minha irmã. Por isso, para todos aqueles que dizem que os médicos estão a agir incorrectamente e blá blá blá quando dizem aos doentes que há dadores possíveis, vão-se f****.
Quando se fala de morte e de vida, quando se fala de doença, é preciso pensar 3 vezes antes de abrir a boca, sim? Antes de escrever, antes de lançar postas de pescada, é boa ideia parar para pensar. Sobretudo quando não se passou por semelhante situação.
E, mais uma vez, muito obrigada a todos os profissionais de saúde que se cruzaram connosco enquanto a Nídia esteve doente. Ainda bem que nos disseram que havia um possível dador, foi emocionalmente muito importante e, acima de tudo, foi o cumprimento do vosso papel: serem transparentes para o doente no que toca ao seu próprio processo.
Não recordo exatamente como cheguei a este endereço, sei que gostei, fui ficando, fiz o link em meu blog, e costumo fazer visitas frequentes. Muito me toca este assunto, pessoas que padecem com leucemia. Há alguns anos perdi uma pessoa muito querida, que segundo os médicos sequer poderia contar com a possibilidade do transplante, pois me parece que o tipo que a acometeu não permitia o procedimento. Em apenas três meses depois do diagnóstico ela nos deixou. Esteve sempre serena, acreditando que ficaria boa e tentando nos tranquilizar. Mesmo sabendo que não poderia fazer nada por ela, mesmo depois de perdê-la, achei que a melhor coisa a fazer seria me tornar doadora, o que fiz. Fico sempre imaginando como seria bom poder ajudar alguém a continuar vivendo com tão pouco esforço. Sinto-me menos triste após tornar-me uma possível doadora. Abraços.
Concordo com cada palavra tua. A leveza com que certas pessoas falam de morte e de vida é desconcertante. O meu filho João é colega de escola do Gonçalo, como tal faço uma pequena (mínima) ideia do que a família está a passar. Não me atrevo sequer a ter a audácia de presumir o que sestarão a sentir. Tudo isto é devastador.
Um abraço grande.