Mesmo que por vezes, isso implique olhar para o lado menos bright de quem está ao nosso lado.
Estou a secar o cabelo e começo a escrever mentalmente este texto. Ainda vou no título e não sei que seguimento vai ter. Acabo de me maquilhar, entrego a minha filha sorridente à avó e desço até à garagem.
Deparo-me com um dia cinzento, frio e choroso (sim, choroso). De imediato vem-me à memória uma imagem que presenciei há uns meses largos e que na altura me marcou profundamente (culpemos as hormonas da amamentação). A Mini Me estava com uma bronquiolite e andava há algumas semanas a fazer ginástica respiratória. O centro de terapia era a 3 minutos a pé de nossa casa mas como estávamos no Inverno, íamos todos os dias de carro. Um dia, depois da terapia, passámos pelo supermercado e, a caminho de casa, vi que uma das mães que encontrava todos os dias no centro com o respectivo bebé, que teria tal como a Mini Me, três ou quatro meses, estava na paragem do autocarro. Ao frio, à chuva, com um carrinho de bebé pouco jeitoso, com um saco de bebé pesado, com a sua própria mala, casacos, chapéu-de-chuva e todos os estrafegos normais e, com um bebé com uma bronquiolite que precisava de tudo menos de estar exposto daquela forma à intempérie. Na altura, esta situação sensibilizou-me de tal forma que falei sobre ela com a minha mãe e o meu marido. E, foi impossível evitar a comparação com outra memória, mais dura, mais fria, mais chorosa. Creio até que já escrevi algures sobre ela, provavelmente aqui.
Não sei se a minha irmã chegou alguma vez a questionar-se “por quê eu?”. Acredito que não. O meu pai sim. Questionou-se muitas vezes e à minha frente “por quê a nós?”. Eu limitei-me a questionar apenas “por quê?”, “para quê?”. Mas diariamente fomos confrontados com realidades tão distintas, tão cruas e sobretudo tão cruéis, mesmo ao nosso lado, perfeitamente side by side, na cama ao lado na mesma enfermaria, que esse “por quê?” depressa desaparecia dos meus sentidos. Nós pudemos dar todo o apoio fisicamente e emocionalmente possível à minha irmã. Pudemos estar sempre presentes. A minha mãe pôde deixar de trabalhar. Eu, o meu marido, o meu pai, a minha tia, a madrinha da Nídia, todos… tivemos flexibilidade total para poder estar com ela diariamente, muitas vezes mais do que uma vez por dia. Tivemos disponibilidade financeira para lhe providenciar aquilo que não lhe dava saúde, mas que lhe dava conforto e alegria. Pudemos aceder a todos os desejos pedidos. E, olhávamos para o lado e víamos miúdas de vinte anos internadas meses e meses sem uma visita porque não eram do continente e os familiares não tinham capacidade financeira para as acompanhar. Olhávamos para o outro lado e víamos uma mãe de crianças abandonada pelo marido e que via as filhas serem negligenciadas pelo próprio pai. Uma avó que não tinha a visita de ninguém. Uma adolescente que passava semanas sem a visita de um amigo. E dói. Dói horrores.
Não devemos ser felizes com a desgraça alheia. Mas é precisamente a desgraça alheia que em momentos difíceis nos permite viver.
É por isso que vivo feliz. É por isso que a minha mãe vive feliz. É por isso que o meu pai vive feliz. Não porque somos tontos e não fizemos o nosso luto. Não porque não sofremos com a saudade. Não porque nos esquecemos do sofrimento atroz da minha irmã.
Mas porque sabemos que fizemos tudo. E sobretudo que tivemos a possibilidade de o fazer.
E é por isso que hoje vou dar mais um passo nesse sentido. E tentar aceder aos desejos de quem mais precisa.
Always look at the bright side of life.
Caramba, estou sem palavras… força Me.
Como não gostar de ti 🙂 beijos
Muito bonito. Parabéns pela “visão” e pela partilha tão bem escrita 🙂
À uns meses, num almoço, falamos nisto… E tocou-me hoje de igual forma, ler este texto.
Gosto mesmo muito de ti. E admiro-te imenso mesmo.
Beijinho,
Susana Pinto
Muita verdade nas tuas palavras!
E sentir que “fizemos” tudo o que havia para fazer acalma-nos a alma!
Always!
A desgraça alheia de nada serve, porque não resolve os nossos males, é verdade. No entanto, ajuda bastante a minimizar a importância que damos a certas coisas, que não têm importância nenhuma, tal como ajuda a sabermos olhar para nós e para o valor das nossas acções.
Mantém-te assim feliz 🙂 vive-se muito melhor assim.
Beijinho*
Querida Me obrigada. Hoje por estes lados também é um dia cinzento, chuvoso e choroso (posso culpar as hormonas da gravidez?) e o teu post deu-me alento. Muito muito obrigada. beijinho
Admiro-te!!!! E quando for grande quero ser assim,já tento…
Querida Me… isso é fazer o luto:) Não deixes que te digam o contrário! Esse é o luto saudável que todos devíamos ser capazes de fazer. Pelo nosso bem e pelo bem daqueles que partiram.
Beijinhos e é bom ter-te de volta
Esse “Mas porque sabemos que fizemos tudo.” é tão mas tão verdade… Essa é a melhor sensação que podemos ter o “saber que fizemos tudo”… 🙂
Gosto mt de te ler Me, admiro-te!
Beijinhos*
obrigada por essas palavras Me.
Es uma verdadeira força da natureza.
beijos.
Que lindo texto, muito sentido e verdadeiro. Infelizmente há sempre alguém pior do que nos, mesmo!!!!! Basta olhar á nossa volta, basta ler a capa de um jornal.
Olá Me! É a primeira vez que comento e até somos vizinhas! 🙂 Leio, vejo. mas falta-me o tempo para comentar ou a preguiça fala mais alto. Mas não queria deixar agora de te dar os parabéns pela força (eu lembro-me da Nídia na escola e lamento imenso o desfecho… 🙁 ) e pela tua visão tão acertada. Se muitas das vezes compararmo-nos com os outros só nos faz mal, noutras faz-nos, justamente, relativizar os nossos problemas. Por muito grandes que sejam as nossas dificuldades há sempre alguém em pior situação e que sobrevive e grande parte das vezes está mais feliz e vive a vida com mais alegria. Então, só temos é que dar graças, olhar sempre para o bright side porque estarmos cá já é maravilhoso! 🙂
Beijinho grande!! ***
Obrigada.
Se há coisa de que me arrependo bastante, foi não ter estado para um amigo quando ele precisou. Porque hospitais não são/eram a minha onda. E porque estava sempre à espera que ele recuperasse e saisse daquela cama. Só o fui ver uma única vez. Até ao dia em que me telefonaram a dizer que tinha falecido.
Apesar de nos termos conhecido durante muito pouco tempo (2 anos talvez e só nos demos melhor no 2º ano) sei que fomos mesmo amigos. Aquela noticia deixou-me profundamente triste e todos os dias penso que nunca lhe disse e ele nunca soube o quanto ele significava por mim, porque estava sempre demasiado ocupada com outras coisas que me pusessem fora do hospital. Hoje, tento sempre dar o meu melhor aos meus, amigos ou familiares. E sempre que posso, faço-lhes ver e digo-lhes o quanto os adoro. Porque não quero, jamais, que outra pessoa da minha vida desapareça sem saber a sua importância para mim.
Obrigada pelos textos, pelas partilhas. E desejo sinceramente tudo de bom para si e para os seus, assim como desejo para mim e para os meus.
A tua escrita, Me, sempre tão simples e despretenciosa, mas que na grande maioria das vezes me consegue deixar com lágrimas nos olhos! Obrigada!
Este texto arrepiou-me!
Logo hoje, dia em que já chorei (e não vou culpar as hormonas da amamentação), em
que já me questionei várias vezes “porquê a mim?”…
Este texto fez-me sentir “pequenina”…
Beijinho,
Ana C.
É isso mesmo Me. Não importa muito o contexto, mas já tive – e tenho – algumas situações na vida em que o meu pensamento é precisamente esse. Já perguntei muitas vezes porquê? Ou porquê a mim?, mas rapidamente percebo que não é a melhor forma de encarar a questão… porque à nossa volta há tantos casos piores, em que as pessoas de facto não têm para onde se virar, onde não há amor e união que melhorem as situações – ou que dêem outro alento, pelo menos -, em que por falta de condições financeiras não há como fazer de outra forma, tentar outra coisa… Enfim, situações que se agravam pelas circunstâncias em que acontecem. E portanto começamos a ver as coisas – e a vida em geral – com outros olhos, ou com os mesmos – os nossos – mas transformados pelo que passamos a conhecer, e é uma questão de relativizar. Sempre. E é uma forma de viver que fica, para sempre. Beijnho grande para ti.
Ufa! Nem sabes o que já chorei hoje, e de novo agora. Precisamente porque tomei conhecimento do falecimento da mãe de um dos coleguinhas de infantário da minha filha. Fiquei de rastos e lamentei imenso a situação, o futuro daquela criança tão pequenina e já a perder tanto na vida…depois pensei que as minhas “desgraças” nada são comparadas com aquela situação…e ao ler o teu texto (providencial) voltei a confirmar isso. De facto, às vezes, temos que olhar para o lado para percebermos o quanto somos abençoados! Se pudermos ajudar “esse lado”, então tudo fica mais luminoso dentro de nós!
Beijinhos!
Adorei este post. Foi o primeiro que li, porque só hoje conheci o teu blogue e como eu vivi estas experiÊncias. Também tive uma pessoa internada e muitas vezes vi situações como a que descreves. É bom saber que não sou a única a pensar assim 🙂
Obrigada por contribuíres, com as tuas palavras, para que alguém (eu) olhe para o bright side of life! És uma inspiração, Me.
Beijos!
Fizeste-me chorar…
A ideia não era essa querida… Um beijo enorme
Isso é reconfortante. Nada a traz de volta e nada apaga essa mágoa de não a ter a vosso lado, mas é reconfortante saber que fizeram tudo por ela e que ela, em todos os segundos, se sabia amada. 🙂
Como te compreendo, lutar sempre, texto inenso Me!!
Abraço doce 🙂
És uma grande mulher e é por existirem pessoas como tu que continuo a acreditar num mundo melhor!
Obrigada Me!
Beijinhos
É mesmo assim que tento viver a vida,vendo o lado bom,para mim nem existe outra forma.O sofrimento faz-nos crescer e aprender a valorizar o que temos.
Fico feliz por ti,por vocês,por terem a paz de saber que fizeram tudo o que podiam e que deram tudo para que a Nídia se sentisse amada e feliz.És uma inspiração.
Beijinhos querida
A Vanessa pôs por escrito tudo o que me passa pela cabeça tantas vezes, e me faz sentir obrigatóriamente feliz todos os dias. Obrigada.
Mais uma vez tocou-me a alma são palavras sábias com conhecimento de causa não foram inventadas mas sim sentidas em toda a sua essência arrepia-nos mas ao mesmo tempo dá-nos força e alento. Já deixei o meu testemunho e minha admiração outras vezes, principalmente respeito pela pessoa que és que não tem medo de mostrar as suas fraquezas que na verdade não são fraquezas mas sim alguem com uma personalidade muito forte alguem que está a deixar uma marca cá. A mim o que mudou-me?
É certo que o meu orçamento não permite-me comprar sempre roupas de marcas, mas aprendi a ter mais cuidado com o meu look diário, a ter melhor apresentação. Portanto os posts que parecem superfulos são de uma utilidade imensa pois existem muitos fashion blogs mas o bom gosto da Me é algo que cativa porque é natural não é forçado é algo que já vem desde a casa dos teus pais, nasceu contigo.
– Aprendi a relativizar problemas que surgem na minha vida. já encarava a vida com algum optimismo mas sou sincera tambem tinha uma visão negativista, nesses aspecto melhorei.
Depois tenho uma bebé linda como a Maria, a minha Leanor sim com “a” nasceu no dia 16 de Novembro de 2011 gosto imenso de ver a Mini Me que foi e é um amor mas a minha foi ao contrário primeiros 3 meses foi de enlouquecer não senti inveja so pensava que o meu 1º filho tinha sido exactamente como a Mini Me, o que estaria a fazer agora de errado, nada apenas cada bebé tem o seu timing e o seu reajustamento. Um grande beijo directo do Algarve
Obrigada Me 🙂 Pelas palavras, pela atitude…
És sem dúvida uma fonte de inspiração, em todos os sentidos.
Obrigada por estas palavras!