Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

A mudança em mim

Há assuntos que são demasiado sensíveis para se poder optar e dizer que este lado é correcto e aquele não. Para se distinguir o bem do mal. Para se dizer que esta é a opção certa e a outra não. Eutanásia. Interrupção voluntária de gravidez. Pena de morte.

Não. Não vou emitir a minha opinião sobre nenhum destes temas. Corrijo, terei de escrever sobre ela claro, mas não é esse o propósito deste texto. No entanto, antes de prosseguir, digo que tenho consciência e, por isso, capacidade de aceitar (ainda que por vezes não compreenda) opiniões contrárias à minha neste tipo de assuntos.

Quando a Mini Me nasceu muita coisa mudou. Não tanta como agoiraram. Não, não deixei de dormir porque a verdade é que ela dorme a noite toda (e, senão dormisse, assim como assim eu já ando sempre acompanhada pelas minhas insónias). Também não deixámos de fazer tudo o que fazíamos. Não mesmo. Mas sim. A vida mudou. Para melhor. Para muito melhor.

Mas a principal mudança em mim refere-se a um dos assuntos acima citados. A interrupção voluntária de gravidez. Se é verdade que sou muito emotiva, de choro fácil e uma mimosa, também é verdade que sou particularmente racional, recta, directa e de ciências exactas. Para mim, a interrupção voluntária de gravidez é, apenas até determinado período da gestação claro, uma decisão que deve caber tão só e apenas à mulher porque, e deixemos-nos de romantismos de que um filho é feito a dois – que é, os filhos são – até determinada altura, das mulheres (na maioria das vezes e independentemente de serem boas ou más mães). São elas que os carregam. São elas que os alimentam. São as mulheres que ainda hoje se sentem inseguras no local de trabalho quando engravidam. É a uma mulher que é socialmente aceite ficar em casa com o filho doente. É a mãe que chega a casa e faz jantares, dá banhos, verifica trabalhos de casa, acorda com um suspiro mais forte do filho. E não, não estou a dizer que isto é regra, a generalizar e muito menos que está certo. De todo. Estou simplesmente a a abordar a vertente prática da coisa e a constatar aquela que é a realidade na maioria dos lares e na nossa sociedade (just for the record e para contrariar a minha própria generalização, nunca sou eu que dou o banho, lá em casa foi sempre o meu pai quem acompanhou os trabalhos de casa e o meu avô faz – e sempre fez, tudo em casa). Por estes motivos e por outros ainda mais fortes, acredito que a interrupção voluntária de gravidez é uma decisão que deve caber a cada mulher e só a ela mesma. A mais ninguém. (Sim, podíamos entrar aqui numa análise exaustiva de factos e justificações mas esse não é o objectivo desta minha divagação.)

E, tendo esta opinião, apesar de nunca ter estado nessa situação, sempre encarei esta decisão como uma possibilidade que, em virtude das circunstâncias, poderia ocorrer na minha vida.

Mas a minha vida mudou. E eu mudei.

E hoje, hoje tenho a certeza de que seria incapaz de tomar tal decisão. Quando olho para a Mini Me e me recordo da incredulidade que senti nos primeiros meses de gravidez, da angústia pela ausência daquela euforia tão visível nas outras grávidas, sei que fui mãe no instante em que engravidei, independentemente de só me ter dado conta disso muito mais tarde. Por isso, mãe que sou, hoje sei que seria incapaz de abandonar, rejeitar ou banir qualquer filho da minha vida.

E essa é talvez a principal mudança. E é esta a mudança que confirma aquilo que sempre senti. A interrupção voluntária da gravidez é uma decisão que só pode caber a cada mulher, porque esta mudança que eu senti, só uma mulher poderá vivenciar. Uma mulher é mãe muito antes de um homem ser pai e homem nenhum poderá sentir esta mudança como eu – como mulher, senti.

29 Discussions on
“A mudança em mim”
  • Tudo pode ser visto dos dois lados, sem duvida. Cabe nos a nós saber respeitar a opinião de cada um. Como mulher sempre disse se não tivesse condições para, seria a primeira pessoa a optar por isso. Contudo, só quem passa por elas é que sabe. Depende de uma série de factores. E nunca podemos nem devemos questionar a opção de cada um. E basicamente é como tu dizes, é uma opção da mulher. Mais nada.
    Beijoooo*****

    • Sissy, respeito a opinião de cada um, mas deixe-me dizer-lhe só uma coisa. Tudo se cria! Com mais ou menos dificuldades. Nos dias de hoje damos tudo aos nossos filhos, antigamente eu escolhia uma boneca para receber no Natal, e fui, na medida do possível, uma criança feliz com o pouco que uma Mãe divorciada e com duas filhas pequenas nos podia dar. Amor, esse, da parte da minha Mãe e família nunca faltou. Não podíamos comprar os lápis de cor no dia seguinte ou até na semana seguinte. Mas no mês seguinte lá se comprava. E estamos aqui sem traumas em relação ao pouco que podíamos receber. No início da juventude as coisas foram mais fáceis, mas igualmente regrado. Lembro-me de ser miudinha a minha Mãe comprar 7 iogurtes para cada uma de nós, eu comia logo dois de cada vez, isso significava que haveria dias que não tinha iogurte para comer. Ainda hoje me lembro disso, e é assim que quero criar o meu filho com regra e sem fartura.

      Onde comem 2, comem 3. Nunca se esqueça disso!

      Vou só rapidamente contar-lhe uma história. Já lá vão prai 4 anos, estava eu no Norte a trabalhar, perto de Lamego, e uma senhora idosa, muito bem parecida, muito cheirosa, com uma pele de pêssego e com poucas rugas. Eu na brincadeira depois de algum tempo de conversa, disse (como desbocada que sou!) pois, não teve filhos nem preocupações é por isso que está toda jovem. A senhora entre uma lágrima e outra lá me foi contando a história dela:

      “Sabe menina, eu não tenho filhos infelizmente. No início da nossa vida de casados, as coisas não foram fáceis, com muito trabalho e pouca fartura. Um dia descobri que estava grávida, mas nós achávamos que não tínhamos condições para criar um filho, então abortei. E até hoje não perdoo por isso. Quando eu achava que não tinha condições matei o meu filho e Deus fez-me pagar bem caro, dando-me todas as condições e os quartos ficaram vazios.”

      NUNCA mais me esqueci destas palavra. Nem do conselho desta sábia e amargurada senhora.

      Beijinhos e muitas felicidades 🙂

      • Ac o problema é que onde comem 2 podem não comer 3 (por razões de saúde)… pode ter um filho com uma coisa tão simples como intolerância ao gluten que essa realidade deixa logo de ser viável. E para mim, mais do que a questão monetária, é questão dos afectos. Podemos exigir que uma mãe seja obrigada a gostar de algo que (por irresponsabilidade ou o que lhe quiser chamar) é obrigada a cuidar??? Eu concordo consigo quando diz que os filhos devem ser educados com regra. Eu não pretendo dar tudo aos meus filhos. Longe disso. Mas não dar porque não quero, não porque não possa… 🙂

        • S antigamente era uma catrefada de filhos, tudo com poucos afectos, com muitas carências, e hoje são pessoas equilibradas. Nesta geração de teen, são tudo depressivos, mimados, querem tudo!!! Eu fiquei chocada quando ouvi um filho dizer a Mãe que eram as calças de 120€ que queria, que não ia andar com outras calças, quando a Mãe ganha o salário mínimo.

          Por isso continuo a achar que tudo se cria, com mais ou menos dificuldade.

          Um beijinho e muitas felicidades para o seu futuro 🙂

  • Eu não aceito um aborto numa circunstância normal! Aceito em casos de violação e mal-formação do feto, SÓ! Porque em pleno século XXI só engravida quem quer!

    E muito menos aceito quem faz do aborto um “método contraceptivo”. Porque sim Me, há quem o faça! E há quem o faça pela merda dos 150€ (ou era este o valor à 2 anos atrás) que recebem por terem abortado. É verdade, está a dar gasto aos contribuintes, porque somos nós que estamos a pagar, e depois ainda recebem um dinheirinho. Que triste pobreza de espírito.

    Eu quando vi o meu filho com 12 semanas na eco era um bebé formado, pequenino, mas um bebé, e era o meu filho, que eu era incapaz de o tirar porque motivo fosse!

    Por isso uma pessoa que faz um aborto, porque a carreira/liberdade está a frente (atenção que aqui não critico quem NÃO quer ter filhos por opção) para mim não pode ser boa pessoa! Porque se acontecer, a pessoa tem que assumir as consequências de um acto de leviandade, se assim o podemos chamar.

    • O problema é precisamente esse… Já pensou que se uma mulher é capaz de abortar por 150€ (como descreve) imagine que tipo de mãe seria…. O aborto é um direito! Aliás, quem carrega o bebé, quem o sustenta e quem dorme ou não por causa dele é quem tem o direito de decidir! Ninguém pede para nascer. E quem nasce, na minha opinião, devia ser desejado e muito amado (com tudo o que isso implica)… E assumir um acto de leviandade não trás obrigatoriamente e por si só mais responsabilidade. Pergunto-me onde ficam os superiores interesses de uma criança, caso ela nasça numa família que não a quis, não quer e que culpá-la-à por tudo o que de mal aconteceu… (Just my opinion…)

      • S, se o aborto não fosse legal, não haveria tantos abortos. Há pessoas que o fazem só pelo dinheiro que recebem depois do aborto, palavras ditas por uma amiga enfermeira. Famílias desestruturadas existem, e vão continuar a existir. E essas pessoas não vão deixar de ter filhos.
        Essas pessoas tem muitos filhos por causa da fortuna (rendimento mínimo) que a Seg Social paga por ter um número elevado de filhos. Uma amiga contou-me que uma senhora conhecida dela recebia do rend. mínimo quase 1000€ por ter 5 filhos.

        Mas quando digo: “para mim não pode ser boa pessoa!”, falo de uma pessoa “normal”, com uma educação “normal” com mais ou menos dificuldades.

  • Há alguns dias escrivi exactamente sobre isto, com o mesmo sentido. Uma mulher torna-se mãe no momento em que o decide ser, quer seja quando engravida, quer seja ainda quando deseja engravidar e um filho já é filho quando ainda é assim apenas pensado, não necessariamente quando é gerado.
    Exactamente por isso uma criança ainda não gerada já é filho e um óvulo fecundado nunca o será, independentemente de um e outro virem a existir.

  • Este tema é muito complicado… Compreendo que haja muitas perspectivas associadas à IVG, e por isso fui e sou a favor da despenalização: assim um faz o que manda a sua circunstância. Hoje em dia, a pressão em cima das mulheres é enorme. A pressão para a carreira é gigante, sobretudo em certos estratos sócio-económicos. As pessoas são pressionadas para trabalhar muito, serem as melhores, ganharem muito dinheiro. Por outro lado, a percepção que nos temos da infância também sofreu mutações nas últimas décadas. Quantos de nós tiveram pais que brincassem connosco? No meu tempo, e não foi assim há tanto, as crianças jantavam às 6:30 e deitavam-se às 8:30 e só depois jantavam os adultos:) Hoje, é um crime ser-se um “mau pai”: há que estar disponível para passear as crianças, passar tempo de qualidade, acompanhar na escola, tê-los sempre bem vestidos e por aí fora. Acredito que entre as novas exigências profissionais e parentais, ter filhos simplesmente “aterrorize” algumas pessoas.

  • Sendo um tema deveras complicado, conseguiste explicar muito bem o teu ponto de vista e não poderia estar mais de acordo contigo. Existem experiências que apenas são vividas por uma mulher e determinadas decisões que apenas ela pode tomar. Bjs

  • Nas primeiras semanas de gravidez houve um debate numa aula do mestrado sobre a interrupção voluntária da gravidez. Eu que fui a favor da liberalização, dei por mim a defender com unhas e dentes a teoria da vida desde o primeiro instante.
    No dia seguinte tive uma ameaça de aborto e a certeza absoluta de que algo em mim tinha mudado e já era mãe daquele pequenino ser que na ecografia tinha 3mm.
    Beijinhu grande às duas

  • Também eu mudei assim.
    Penso que apenas faria um aborto na situação de violação…
    Gosto de pensar que a mulher que aborta fá-lo fortemente condicionada pela vida ou por situações melindrosas…mas a verdade é que nem tudo é preto ou branco.
    Depois, há tanto por onde se justificar a situação: as crianças abandonadas à nascença, no meio da rua (o meu marido, no âmbito da sua profissão, assistiu a um caso destes que o deixou abaladíssimo durante semanas), os que vivem em famílias disfuncionais, os que vivem em instituições…teremos o direito de os fazer nascer para sofrerem assim?!
    Enfim, é um assunto muito sensível, e nada consensual.
    Beijinhos!

  • Concordo plenamente…. felizmente eu também senti isso e também eu mudei 🙂 Essa é uma das belezas de ser mãe a de mudarmos e de evoluirmos 🙂

  • Eu concordo com cada palavrinha. No outro dia, quando fui a um baptizado, num grupo de mulheres discutia-se exactamente isso, que no final das contas, a decisão de engravidar, de ter ou não ter a criança é da mulher. Por muito que digam o contrário, quem vive para sempre com essa decisão e com as marcas que isso acarreta, é a mulher, e de uma forma muito singular. Não tenho nada contra o aborto mas sei que eu não seria capaz de viver com essa decisão. Espero nunca passar por isso. 😉

    **

  • Eu tive dois filhos, não nascidos, provavelmente, nem sequer seriam gerados. Estaria “apenas grávida”, sem filho, mas fui mãe. E jamais conseguirei entender (e perdoar a quem o faz) a decisão de uma IVG, mas lá está, cada um sabe de si. A desisão, a dor, a perda, é de cada mulher.

    Beijinho

  • Eu concordo com as palavras da Me!
    Tenho 24 anos e um dos meus objetivos de vida não é ser mãe… Nunca engravidei nem nunca tive medo de estar grávida devido a algum descuido… Mas se engravidasse agora julgo que faria uma ivg…. pois sei que não ia ter disponibilidade de tratar da criança nem o amor devido para lhe dar… por isso acho que parte de cada pessoa decidir o que fazer e caso de gravidez!
    Quem sabe se um dia também mudarei a minha forma de pensar…

  • Tive uma amiga que pensava como a AC, votou não no referendo e chamava de tudo a uma mulher que aborta tudo. Um dia teve uma triste notícia: o seu feto tinha trissomia 21. Abortou. Tive vontade de lhe perguntar e dizer muita coisa, como em que é que um filho deficiente é diferente de um não deficiente, mas não o fiz, não gosto de escarafunchar feridas abertas. E claro que ela tinha todo o direito de o fazer, e mais vale mudar de ideias tarde que nunca. Mas, resumindo, só quem passa por elas é que sabe, e deumalibre de andar a fazer juízos de valor sobre quem aborta. Cada um sabe das suas circunstâncias, e andar a apontar o dedo é que não. E a ideia de que tudo se cria vai ao ar com muita facilidade, quanto se visita um bairro de barracas.

    • Eu sou a favor do aborto em casos de mal-formação por uma simples razão, porque são crianças que vão sofrer. São crianças iguais mas diferentes e nós não temos uma sociedade pronta para a diferença. Se eu faria um aborto nessas circunstâncias? Não sei. E deixo aqui outra história, passada para os lados de onde mora a Me. Estava naquela zona a trabalhar, e na hora de almoço fomos a um café da zona, estava lá um rapaz, que agora terá 37 anos e chama-se Filipe, e aparentemente com paralisia cerebral. Na altura pensei para os meus botões, coitados daqueles pais… Entretanto o sr veio ter comigo ao trabalho, e em conversa disse que o filho tinha estado com ele no café, eu disse-lhe que tinha reparado. Perguntei-lhe se nasceu com paralisia? Ele respondeu que não e contou a história. Aquele brilhante aluno de engenharia, ia no carro com amigos sentado atrás. Veio uma carrinha e chocou de frente. O amigo tinha na mala uma caixa de ferramentas que lhe entrou pela cabeça a dentro. E aquele brilhante aluno no primeiro ano, aquele orgulho de filho tinha ficado como um bebé, mas com a agravante de que com o passar dos anos se transformou num homem, pesado, e que com o passar dos anos estava a ser difícil lidar (dar banho e outras coisas) com aquele homem que para eles é um bebé. Ele falou da rejeição das pessoas da idade dele em casamentos, da maneira como é olhado, e o Filipe também repara. E sofre com isso. E aqueles pais, que sofrem diariamente pela situação, sofrem muito mais por saberem que vão morrer primeiro que o filho, se Deus quiser. Mas ele, aquele pai, só dizia que pedia a Deus para o levar no minuto antes dele. E foi triste, tão triste que estavamos os 3 a chorar. Eu o Gonçalo e o pai do Filipe.

      E é por isso que eu sou a favor nesses casos, só por isso, por ver o sofrimento daquele pai, e imaginar o sofrimento daquela família.

      E em relação a tudo se cria, eu não sou do tempo de não haver calçado, mas quase que parecia. Adorava andar descalça, NUNCA estive doente até aos meus 14 anos, aos 14 anos foi a primeira vez que pus um pé no hospital, brincávamos na rua à chuva, chupávamos aquelas plantas roxas que cheiravam bem, andávamos no rio ave, e por ai fora. Hoje, nas casas é ar ligado, é aquecimento ligado, é roupa quentinha, não comem terra, não andam descalços, não brincam na rua e muito menos a chuva. O meu filho de 18 meses já teve um sem fim de bronquiolites, (medicado com brisovent diariamente), antigamente até se fazia com a mão no ouvido, ah? Bronquio o quê?

      Confesso que em algumas coisas sou muito retrograda, e gostava muito dos tempos de antigamente. Por isso continuarei por agora com a mesma opinião, mas não quer dizer que um dia não mude.
      “Porque mudar é sinal de inteligência”
      Felicidades 🙂

  • Gostei tanto. 🙂 A maternidade muda sempre uma melhor, às vezes de forma evidente e outras vezes de uma forma mais discreta. Não és a típica mãe entusiasmada e cor-de-rosa, mas és muito mãe, muito preocupada, muito dada. 🙂

  • Boa noite,
    Li este post logo pela manhã, mas não quis comentar, por todos os motivos e mais alguns. As lágrimas vieram-me aos olhos, pois sei o que sofri e o que passado 2 anos ainda sofro.

  • Peço desculpa mas estou super nervosa e enviei o comentário antes terminar. Continuando a minha história.
    Sou mãe de duas meninas lindas e de quem me orgulho, têm 18 meses de diferença e são a minha vida. Há dois anos atrás, fquei novamente grávida, nem queria acreditar, chorei, berrei e perguntava-me a mim mesma o que fazer. As duas ainda no infantário, o dinheiro, como ia conseguir ter outra criança e dar aos três tudo aquilo que eu gostaria de lhes dar, principalmente os estudos (a história onde comem 2 comem 3 não é bem como as pessoas dizem), não é só o comer é tudo o resto, pensava eu e atualmente tenho momentos em que penso assim, talvez para não me recriminar tanto.
    Então optei por uma IVG, e nunca me irei esquecer desse dia, chorei tanto, mas tanto naquela clinica que ninguém consegue imaginar. Não tive dores, aliás não senti nada, estava a dormir, mas quando acordei, senti-me suja a pior pessoa do mundo, e foi nesse momento que desejei voltar atrás no tempo, já era tarde.
    Atualmente e passados 2 anos ainda sofro com o que fiz, principalmente quando as minhas filhas chegam ao pé de mim e me dizem “mãe queremos um mano”, e eu só penso, o mano que eu lhes neguei, é uma verdadeira tortura viver com isto.
    Por isso peço, não recriminem ninguém por o fazer, pois quem o faz já carrega o fardo para o resto da vida.
    Hoje em dia se voltasse a engravidar, de uma coisa tenho a certeza, não o voltaria a fazer.
    A culpa, o sofrimento que eu trago dentro de mim nunca mas nunca irá desaparecer.
    Me,
    Desculpa estar a escrever este texto, mas é só para que percebam que as mulheres que o fazem também têm sentimentos, e se o fizeram tiveram uma razão muito forte.
    Beijos

  • Eu acho que o assunto da IVG é controversa como tudo na vida o é, porque o ser humano simplesmente não é todo igual.
    Existem uns que querem ter filhos não importa a situação financeira que tem, a outros como eu querem ter filhos e é planeado e em principio vai ser para o ano pois estamos estáveis e já apreendemos que estabilidade é uma coisa que não existe, o meu marido ficou 6 meses na corda bamba sem ordenado e agora mudou de empresa, mas isso fez nos pensar bolas nunca sabemos e vamos nos impedir de ter um filho porque simplesmente não sabemos o futuro? Quando era só o meu ordenado a entrar e conseguimos aguentar tudo (com stress) mas sem privar nada de comida e contas pagas, pensamos ok estamos a ser totós, isto bem gerido dá sim senhores…. depois temos as Mulheres que adoram andar na boa vida e não usam protecção. Conto vos o caso da prima de uma colega minha, ela engravida aos vinte porque tomou antibiotico e cortou a pílula e eu perguntei então não sabias….e ela ah não me lembrei…. e soube que anteriormente com 18 anos já tinha feito IVG pelo mesmo motivo… no segundo não foi a tempo… e nasceu e ela adora o miudo e a criança é feliz e alegria da casa… com seis meses entra a mãe de urgência no hospital e vou ter com ela… um infecção que quase lhe ia custar o útero mas os médicos consequiram controlar… e eu perguntei o que se passou e ela ah o meu novo namorado e tal, antibiótico e tal e engravidei e como tinha já um bebe de 6 meses não podia ter outro então IVG… que ia custando caro porque o útero nem sequer tinha recuperado do anterior e já estava a ser maltratado…. não entrou nada na cabeça dela, falei de por um implante para não se esquecer da pílula, falei do preservativo de tudo…. ela sabe de tudo, simplesmente dá trabalho e o IVG não…. nunca me demonstrou remorsos por matar um filho nada de nada, nem ficou preocupada por quase perder o útero…. não entrou nada na cabeça dela, falei de doenças de tudo… nada que ela não soubesse…. e neste caso fazem o que continuamos a comparticipar a loucura dela com 20 anos ou laqueamos já as trompas?!
    E a quantidade de médias obstrectas que lhes dá vontade de sem querer numa cesariana cortar qualquer coisa… tudo porque sabem que aquela mulher vai continuar a ter filhos e a largar no meio da rua como se fosse lixo…. não se importam sequer o suficiente para uma IVG…

    Por isso não estamos num mundo perfeito onde as pessoas tem cabeça e juizo… não é preciso ser se rico para ter filhos, mas pelo menos estabilidade emocional deveríamos de ter…

    E mesmo assim continuo a dizer só engravida quem quer… hoje em dia bolas… aos anos que tomo pílula e nunca tive sustos nem descuido, estou de antibiótico e o meu próprio namorado (na altura) por confiar pouco no preservativo preferiu esperar (disse eu não morro e nem tu e assim sabemos que não acontece nada)…..

  • Fico sempre triste quando vejo como as pessoas acreditam que o resto do mundo é como elas. Não têm em conta a situação da mãe, a sua formação, a vida que teve, a familia que tem (ou não).
    Trabalhei em instituições de acolhimento de menores e estaria aqui um dia inteiro a contar tudo o que se vive lá. Crianças abusadas pelos pais, tios, cunhados e outros mil que habitam o mesmo barraco. Crianças a quem as mães davam sopa de baratas. Crianças que foram abusadas sexualmente já na instituição de acolhimento.
    Existem meios para evitar uma gravidez? Sim. Todos estão consciencializados para tal? Não. Uma mãe que tem coragem de tirar um filho deveria mesmo fazê-lo…
    O problema não é a falta de recursos financeiros, é a falta de amor. E para isso não há solução…
    Os comentários que vejo contra o aborto revelam sempre um total desconhecimento sobre o que é ser uma criança indesejada em Portugal. Seria preciso sair do do mundo pessoal e espreitar lá para fora, para os outros mundos, que estão mesmo ao lado.

  • Embora siga o blog há algum tempo, não tenho por hábito comentar, mas é verdade que como mãe é um assunto que me toca!
    Sempre achei que a IVG é uma opção de cada mulher, e assim sendo não sou ninguém para julgar quem tome essa decisão.
    Em algumas alturas da minha vida, cheguei a pensar que se engravidasse poderia ser uma opção o aborto, tal nunca aconteceu e agora sei que não o conseguia fazer.
    Quando descobri que estava grávida senti uma felicidade extrema, mas durante os primeiros meses nunca a consegui viver da mesma forma que via tantas mães fazer, porquê? Não consigo explicar, a verdade é que às 21 semanas foi detectada uma fenda labio palatina na minha menina que tanto desejei. O mundo desabou, chorei, chorei e sofri muito, tive de fazer uma amniocentese pois poderiam estar associados outros problemas que impediriam o seu desenvolvimento, durante as 4 semanas de espera pelo resultado pairava a possibilidade de ter de abortar, foram os piores momentos da minha vida. Como poderia eu terminar a vida de alguém que me preenchia e me dava tanta felicidade, que sentia dentro de mim, que eu já chamava pelo seu nome, era a minha filha… Felizmente a fenda seria o seu único problema. Teríamos uma grande luta pela frente, mas seria junto da minha filha, que a partir daquele momento passei a amar ainda mais do que acharia possível.
    Não condeno a mãe que decida interromper a sua gravidez, é uma decisão de cada mulher, e sim é uma decisão, principalmente, da mulher.

  • Aconteceu-me o mesmo. Antes da minha filha hipotéticamente poderia ponderar uma IVG, mas depois dela nascer, não me passa pela cabeça. No entanto, sou a favor da despenalização sim, porque por detrás dela está um valor que para mim é indispensável, o da liberdade.
    E mais. Custa-me muito mais ver crianças negligenciadas e abandonadas, ou mal-tratadas pelos pais. Isso sim, é um crime.

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