Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

Ontem fez 1 ano

Ontem fez um ano.

Ainda a tremer do frio do chão, do choque, das dores, balbuciei um “não sei” quando me perguntaram quem avisar.

Saiu-me um tremido “O meu marido não, porque está no avião”… e olharam para mim como se estivesse desorientada.

“Os seus pais?” E chorei descontroladamente, “Os meus pais não! Nem pensar!”, enquanto pensava em quem e como poderia avisá-los sobre o que se tinha passado. E ninguém entendeu a minha resposta.

E chorava. E só me lembrava de ti. E de como naquele instante já tinha a certeza (que mantenho com ainda mais convicção) de que só tu poderias ter estado ali e ser a minha estrela…

E pediam-me que não chorasse, que não ia conseguir respirar, que ia sobreviver, que chegávamos ao hospital num instante.

“Avisem o D.” “Quem é o D.? É seu irmão?” Ainda me passou pela cabeça dizer que sim. Calavam-se e não me chateavam mais. Mas quando disse que era um amigo ficaram com a certeza de que não estava psicologicamente bem (e estava, oh se estava).

Largaram-lhe a notícia às 8h da manhã. Se bem o conheço ainda devia estar na cama e com as notícias recentes que tinha recebido não precisava de mais uma bomba nas mãos.

Conseguiu avisar o R. assim que ele aterrou. E foi por uma questão de minutos que não voltou no mesmo avião. Ainda assim, quando chegou – creio ao início da tarde, pareceu-me que tinha estado sempre ali (ou eu é que não estava cá).

A minha mãe, avisada pelo R. chegou com o meu pai ao hospital pouco tempo depois do D., que me recebeu quando cheguei.

E eu continuava a chorar. E a pedir desculpa. Se é verdade que a morte da Nídia ainda era recente, tinha a certeza de que não mereciam receber esta notícia.

“A sua filha teve um acidente. Foi contra um camião na Crel.”

E do carro reza a história que não se percebe como saí viva. Não o vi nem quero ver. Não sei pormenores do estado dele nem quero saber. Sabe o meu pai que foi quem o viu e que não precisava de certeza de ter esse registo nas memórias dele.

Restam meia dúzia de rabiscos em mim para me lembrar de um acidente que não sei como aconteceu. Talvez por não saber, o medo de conduzir nunca chegou. O medo de camiões tampouco.

Sobrou o medo de voltar a fazer passar os meus pais por tamanho terror.

37 Discussions on
“Ontem fez 1 ano”
  • A tua estrelinha estará sempre a iluminar o teu caminho, podes ter a certeza. Por isso, não te lembras de nada.
    Consegui sentir o que passaste pela descrição e pela emoção que colocaste aqui nestas tuas palavras. Mil beijinhos**

  • Faltam-nos as palavras. Oxalá os teus pais nunca voltem a ser colocados nessa situação. Acabou tudo bem e isso é o mais importante! Beijinho

  • Oh Me,
    deixas-me com a lágrima nos olhos com estes teus textos.
    Já passou um ano, e que ano, pensa só nas coisas boas e eu sei que o fazes, há dentro de ti uma força que não a reconheço a mais ninguém,
    um abracinho apertado

  • Bem… na altura já seguia o blog, e agora tiraste-me umas lagrimitas… 1 ano! Mas pensa que foi um ano, que embora com início atribulado, foi um ano muito positivo, com a princesa fofa e FASHION. Ninguém substitui ninguém no mundo, também gosto de pensar, que quando nos tiram com uma mão, surge outra, para de alguma forma, atenuar e amaciar o coração….

    Já passou…. Está tudo bem! 😉

  • Nao penses nisso! Passou , está passado. Nada como ter mais cuidado, apesar de nem sempre o erro ser nosso. Pensa na linda filha e na familia unida que tens. Isso é que interessa.
    bjs

  • Doce Me, tu és uma mulher de fibra e de muita luta, uma verdadeira guerreira.
    Admiro-te por nunca desistires, por dares luta, por conquistares os outros com as tuas palavras e com tua presença tão forte, nunca desistas.
    O que aconteceu há um ano atrás já passou, agora és mãe, tens uma filha muito fashion, saude e és linda.
    Abraço muito doce… quem sabe de uma as próximas idas a Lisboa, tenhas disponibilidade para nos conhecer.mos…
    Sairaf

  • Oh minha Mezoca, nem sei o que te dizer, para além dos clichés de que já passou, que agora tens uma filha linda e tudo isso que sabes bem melhor do que eu. Mas é isso, já passou e os teus pais nunca mais vão passar por sustos destes. Olha, um grande beijinho para ti e mais uns para eles, sim?

  • Olaaa,

    Por tua causa fiquei com a lágrima no canto do olho. Apesar de tudo do sofrimento e tudo mais, o que interessa e tudo mais é que superaste. Que estas feliz e te sentes bem. E acima de tudo, que nao voltes a pregar um susto desses a quem te ama.

    Beijoooo****

  • Como sabes a tua irmã esteve sempre e estará sempre a teu lado! Ainda bem que tudo não passou de um susto e que não foi nada grave! Ficam agora as memórias para contar.

    Beijinho!

  • Ai rapariga, que tu escreves de uma maneira que me encolhe o coração. Curta e certeira.
    Eu acredito em finais felizes, mas… às vezes é muito difícil lá chegar!

    O que importa agora é que efectivamente ficou tudo bem! 🙂

  • olá me, fica a (má )lembrança, acredito que deve ter sido um susto daqueles, nem faço a mais pequena ideia e lembra-te que tal como tu dizes tinhas a tua estrela a olhar por ti e a organizar-te as ideias. jinhos e não penses mais nisso (é facil falar)
    xana

  • 🙁 Lamento tanto que tenhas passado por isso, foi muita dor junta ao mesmo tempo. É bom saber que recuperaste, que engravidaste depois e estás numa das fases mais bonitas da tua vida, certamente.

  • muito se fala no se altera depois de sermos mães. para além do amor incondicional que nasceu em mim, tenho agora a perfeita noção que o meu maior receio (medo tremendo) é de a perder e compreendo tão bem todas as precupações dos meus pais, as chamadas de atenção, o apoio constante, a chamada à realidade…
    é, como tão bem disseste, um verdadeiro terror…

    beijo

  • As tuas palavras fizeram-me chorar, não porque já tenha sentido na pele, porque felizmente nunca me aconteceu… mas por conseguir sentir o que dizes em relação aos teus pais. O meu maior medo de ficar doente, ter um acidente, acontecer qualquer coisa é mesmo esse… o de fazer sofrer os meus pais (e agora também a minha filha). Não tenho medo por mim, tenho medo por eles… pelo que lhes possa fazer sofrer, porque eu, eu sei que aguento, agora eles…
    Mas continua, com essa força que tens! Do fundo do coração que continues a ser feliz a maior parte dos teus dias!!!

  • Eu sou muito adepta da velha máxima ” tudo está bem quando acaba bem”. É assim que arrumo as tempestades que se vão dando na minha vida e saboreio o porto seguro. É nesse que felizmente te encontras agora:)
    Bjs
    Bom fim-de-semama

  • Já passou um ano?!!!
    Lembro-me da ausência no blogue e de depois dares a notícia…
    Um ano…
    Dizem que o futuro só faz sentido tendo em conta o passado. Mesmo com recordações tão sofridas, o que interessa é que o teu futuro, depois do acidente, foi, é e vai continuar a ser de luta, esperança, Amor, Vida! Vê como num ano a tua vida mudou, enriqueceu!
    A tua Estrela continua a brilhar para ti e por ti, lá no céu!
    Nós continuamos aqui a visitar-te e a ficar encantados com os teus textos, fotos e reflexões!
    Beijinho grande de admiração e força!

  • Por muito tempo que já tenha passado,existem momentos na nossa vida que ficam marcados e em que nos lembramos exactamente do que sentimos.Já acompanhava o teu blogue na altura,quase que diáriamente,embora silênciosa na maioria das vezes e neste post senti o que não demonstraste logo após o acidente.
    Só consigo imaginar o que os teus pais poderão ter sentido(nós que depois de sermos pais andamos com o coração nas mãos)e na frieza que conseguiste ter para pensar primeiro neles antes de ti.
    Felizmente tudo correu bem e se 2011 foi o ano que começou com um grande susto,foi também um ano que acabou com uma grande dádiva.A princesa Mini Me. 😉
    Beijinhos e felicidades que é o que vos desejo

  • Eu lembro-me de teres escrito sobre isso enquanto recuperavas. Imagino o peso da responsabilidade que sentes por “teres que te manter viva” para que os teus pais não voltem a sofrer tamanha dor.

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