Um dia destes, a propósito de um estudo efectuado em Portugal, li por aí que as conclusões da dita análise reflectiam que a baixa natalidade em Portugal não é afinal resultado de quaisquer questões, dificuldades ou variáveis financeiras.
E confesso que isto me causou (e ainda causa) alguma celeuma interna.
Se não é verdade que onde comem três, comem quatro (porque não é), também não deixa de ser uma falsa verdade essa de que hoje se valoriza (em demasia) bens, produtos ou serviços desnecessários.
É verdade que sim, que os miúdos não têm de andar no colégio (não? há realidades em que é muito difícil fugir aos colégios). É verdade que sim, que temos um SNS muito bom. Sim, é muito bom quando somos assolados por uma qualquer doença grave com um prognóstico pouco simpático. Tratar uma gripe, uma otite ou qualquer uma das ites que frequentemente atacam os miúdos, já envolve toda uma burocracia pouco fácil e muito morosa para doenças de quatro ou cinco dias. Justificações e exemplos não faltam.
É verdade. Não é só por questões financeiras que não se fazem mais bebés em Portugal (estou desconfiada que não seja por não sabermos como os fazer!)… Mas, se formos ao cerne da questão, a maioria dos motivos seriam atenuados (ou extintos) com folga financeira.
Estamos actualmente perante a ausência de uma sociedade que permita qualquer rede de apoio. Os avós, tios ou padrinhos são muito importantes, que são e sei bem porque os temos e podemos contar com eles. Mas não são tudo. É preciso uma estratégia nas grandes cidades que permita maior proximidade (em espaço e tempo) entre os vários espaços (escolas, empregos, casas) que actualmente não existe. Rede de transportes efectivamente funcional, apoio e incentivo à habitação dentro dos muros das cidades.
É necessária uma legislação laboral que, mais do que permitir, incentive flexibilidade e reduções de horários.
É necessário um maior apoio no que se refere à saúde – não estou só a falar de gripes ou doenças graves. Apoio quando há problemas de desenvolvimento. Apoio quando há doenças raras e graves. Apoio quando é necessário um especialista ou exames de diagnóstico mais específicos do que um raio-X.
Assumidamente, cá em casa não nos podemos queixar. Queremos ter um terceiro filho mas estamos no impasse claro de que se a nossa vida se mantiver nas exactas condições em que está (financeiras claro, mas não só) teremos de alterar muita coisa para poder ter esse terceiro filho. Fazemos contas a mensalidades de creches e colégios, a empregadas domésticas (que na nossa realidade é praticamente indispensável), a logísticas e horas de trânsito, a consultas médicas, terapias e exames.
Existirão naturalmente casais que não querem ter filhos. Outros que só quererão ter um. Mas dizer que questões financeiras não estão associadas à natalidade em (e de) Portugal é só uma gigantesca falácia. Como é que as questões financeiras não importam?
Vai daí sim, fico muito satisfeita quando vejo qualquer campanha pró-natalidade. Ninguém vai ter mais bebés porque a junta de freguesia de Freixo de Espada à Cinta (substituir por qualquer localidade que efectivamente tenha uma qualquer campanha activa – não verifiquei) oferece aos pais 500€ por cada novo bebé. Ou porque a Wells oferece um kit a todos os bebés nascidos em 2018. Ninguém. Mas se todos reconhecermos e valorizarmos publicamente estes movimentos, se falarmos sobre isso, se este tema começar a ser ponto na agenda pública, estaremos um bocadinho mais perto.
Vai daí, obrigada Wells pela excelente iniciativa.
Mamãs de 2018, aproveitem! São miminhos úteis para os bebés mas vocês não foram esquecidas!
e ainda temos aqueles casais que querem e não conseguem! e a lista nos hospitais públicos é imensa e nos privados o preço é pesado!
O Rodrigo é resultado de uma fiv-icsi… Infertilidade secunária.
5 tratamentos em 8 meses, cá em casa sabemos bem o peso da factura…
Um caso de sucesso! Que bom lê-lo. Parabéns e muitas felicidades… a 4 🙂