A sério que não é.
Longe vai o tempo do “onde comem 3, comem 4”, é verdade. Os tempos mudam e as necessidades “consideradas” básicas também. Queremos o melhor para os nossos filhos e achamos sempre que o melhor é dar-lhes tudo. Mas o tudo que eu quero dar à minha filha é amor. Felicidade. Memórias. Família. Tempo.
Diz a Sofia Anjos:
No país dos filhos únicos, quem tem um filho é rei. E no país dos filhos únicos, quem é rei é remediado. E quem é remediado, não tem tempo.
Tudo se cria, dizem. E numa mesa portuguesa comem dois e quem mais se sentar, basta apertar os cotovelos. Somos um povo com jeito para somar, acumular, aumentar o que quer que seja, excepto rendimentos. E filhos. Passo a redundância.
Esta sociedade, apesar de liderada por um coelho, não está para grandes procriações. E não é por causa da suposta geração egoísta que não quer filhos. Nem por causa da idade tardia ou da evidente falência do casamento. E muito menos pela cómica desculpa de que agora as mulheres trabalham.
(…)
Começa com 50 euros mensais para as latas de leite na farmácia, 85 euros para a consulta numa pediatra particular, 70 euros para uma das muitas doses de vacinas incentivadoramente fora do plano de vacinação nacional. A farmácia é a segunda casa de uma recém-mamã onde mensalmente contribui com a dízima. Quem não tem seguro de saúde, fica com o rabo quadrado das cadeiras miseráveis dos centros públicos. E pede o papelinho de justificação por ter faltado a manhã toda ao trabalho.
(…)
Simplificamos a lista e a criança nasce. E a sociedade presenteia-a com quatro meses de licença maternal a 100% de remuneração. OBRIGADA! Se quiser mais um mês, pode tirar, mas já não recebe por inteiro. Breve dúvida maternal: o bebé ou o dinheiro?
“Posso prescindir da creche?” NÃO. “Então, faça o favor de pagar 350 euros mensais e se vier buscar o bebé depois das 17h30 paga mais.” Perfeito, saindo às 18h30 do trabalho, os pais ficam muito bem vistos pelo chefe. E garantem que não serão promovidos enquanto a criança andar de gatas. Mas talvez mantenham o emprego. “Não tem que chegue para pagar a creche? Ponha a criança numa creche social, só paga em função do rendimento e basta esperar dois anos para ter vaga”. Ah… se calhar é melhor ir fazer castings para anúncios de mães que chegam atrasadas para ir buscar os filhos que confiam nelas.
But it’s not about the money! Parece que é mas não é. A grande comédia parental, de que todos fazemos parte, é que não temos tempo para ter filhos.
Fazemos contas à vida para ter filhos para depois os deixar em algum lado. Temos filhos para perguntar “Onde é que o ponho agora?”. Temos filhos para os levar de manhã à escola e os recolher à noite. Temos filhos para os ver dormir.
É tão bom ter filhos que, quase todos, queremos um. Claro que damos um jeitinho e lá arranjamos um pé de meia para o dia-a-dia. Mas o que falta nas prateleiras do supermercado são promoções de tempo: na compra de um pacote de fraldas, oferta de duas horas para estar com o seu bebé. O que falta nas farmácias é uma vacina contra os atrasos. Não adianta comprar compressas se não temos tempo.
Sou rainha no meu país: tenho uma filha, um quarto só para ela, tenho emprego onde ganho bem mais que o ordenado mínimo e conto com a ajuda das avós. E esta sociedade diz-me para ficar radiante e não me queixar, pois desejar mais tempo para estar com ela não está previsto na legislação. E muito menos nas mentalidades. Para já, vou esperar para ver que novas medidas de incentivo à natalidade vão sair da cartola. Para perceber se terei tempo para imaginar um segundo filho.
É tão tão verdade, que dói.
Mas eu quero o segundo filho. E, assim mesmo mesmo nos sonhos mais afastados (embora não recônditos), queria o terceiro.
Como a Sofia, dizem-me para não me queixar. Não faço contas a tostões. Não faço. Mas faço contas ao tempo, faço tantas contas ao tempo. Faço tanta ginástica diária, desmultiplico-me e desdobro-me nem sei bem como.
Esta semana tem sido particularmente difícil, o horário apertado dele apertou ainda mais e eu, em pleno arranque de um projeto, tenho feito uma logística maternal do outro mundo que só foi possível com muita ajuda do avô.
Todavia, apesar de não conseguirmos controlar o nosso horário (profissional) na totalidade, há outras atitudes que podemos tomar. Eu sei quais são as nossas. Estão identificadas e bem definidas. É uma questão de tomada de decisão. Abdicar disto, para ter aquilo. Sendo que o isto não é tempo de ginásio, não é tempo de cabeleireiro, não é tempo de “me time”.
A verdade é que um segundo ou terceiro filho não nos rouba tempo dos outros filhos, dá-lhes sim o melhor que eles podem ter, um irmão.
E a minha filha não vai ser mesmo filha única.
Infelizmente, a minha vai… o desemprego e a crise assim o ditaram.
A mágoa que me traz, ninguém a pode atenuar.
Resta viver a minha cria, o melhor que puder e souber…estar com ela e acompanhá-la o mais possível, mesmo contando o dinheiro. Mesmo abdicando de mim, porque ela é mais importante.
Abreijos e muitas felicidades. Que venham mais manos para a mini-Me! 😀
Olha Me, eu continuo a ser da opinião de que hoje em dia somos demasiado egoístas para termos filhos. Um filho não pede biberões xpto, não pede carrinhos ultra sofisticados ou roupas de marca. Um filho não pede um quarto todo moderno ou uma festa de 1º aniversário com direito a catering e a uma decoração de sonho.
Nós é que lhes queremos dar, sem dúvida alguma, mas um filho pede apenas comida, abrigo e acima de tudo muito carinho. E claro, como bem dizes tempo. Mas acima de tudo pedem tempo de qualidade e muitas vezes é isso que não estamos dispostos a dar, porque naqueles 15 minutos extra que até temos, queremos é descansar (porque temos todo o direito a estar cansadas(os)) ou ir um bocado ao facebook ou simplesmente sentar no sofá a ver um pouco de tv.
E depois há a questão da profissão, mas aí a verdade é que há que fazer escolhas e eu não acho que escolher a profissão seja uma má escolha mas ainda assim ter o melhor dos dois mundos hoje em dia e na sociedade que ainda temos, simplesmente não é possível.
Eu continuo a achar que hoje em dia há demasiado egoísmo e que muitos não querem abdicar do seu tempo precioso, das suas viagens e pior, do fato de não terem responsabilidades. E a questão principal é essa: um filho exige responsabilidade e muita, exige que deixemos de ser os filhinhos que sempre tiveram tudo dos seus pais e que sempre tiveram a vida facilitada em muitos níveis.
Como sabes eu já tenho 3, e sim exigem muito dinheiro (só em creche…) e exigem muito tempo e … MUITA responsabilidade… mas mentalizei-me que ter filhos é isso mesmo e que eles, ao contrário de mim que sou filha única, terão de aprender a partilhar 1 bola de berlim na praia, as roupas e brinquedos, mas terão aquilo que eu não tive/tenho: ter-se-ão sempre a eles. E digo mais… é bem possível que não fique por aqui.
Se podes se queres vai em frente . Não há nada melhor que ter irmãos.
Num país em que nada nos ajuda temos de fazer tripas coração para ter o que devia ser normal.
Eu nem um quanto mais dois. Três empregos e relações falhadas. Mas não aponto o dedo a quem os tem ou quer mais. Levanto-me e bato palmas isso sim 🙂
Espero que te corra tudo bem.. sigo-te há alguns anos e já me ajudas-te quando fui a Veneza não sei se te lembras. Pareces-me um doce de pessoa com muito boa educação. Desejo-te tudo de bom a sério .. e que construas uma famiília ainda mais linda!
Não concordo, concordo mais com isto: http://expresso.sapo.pt/nao-temos-mais-filhos-porque-gastamos-tudo-no-primeiro=f858356
Fui filha única durante 12 anos e DETESTEI.
Tem-se pouco tempo para os miúdos? Os avós ajudam, já ajudaram os meus pais (comigo e depois com a minha irmã), como muitos avós ajudaram noutros tempos. O problema agora é que grande parte dos pais não quer que os avós interfiram muito, querem ser super independentes… não se pode ter tudo. Conheço alguns assim, sei que não serão todos.
O meu fica com as avós, elas ajudam na alimentação enquanto ele lá está, pretendo ter outro (pelo menos), pretendo usar a mesma roupa, que já veio do primo (a grande maioria). Pretendo criar o meu à “moda antiga”, a meu ver as necessidades básicas são sempre as mesmas ao longo dos anos, se formos a ver bem, são mesmo. Se tivéssemos que deixar tudo, o essencial é sempre o mesmo quer seja hoje, ou há 30, 40 anos atrás.
Sei que nem todos têm essa possibilidade, mas não entendo quem tem e não a usa. Respeito, porque são opções, mas custa-me a entender.
Eu tive uma relação super próxima com os meus avós e tento que a minha filha também a tenha. Mas essa não é a solução. Eu quero ter filhos para ser eu a criá-los e não a creche ou os avós. Entre os avós e qualquer outra alternativa, claro, mil vezes os avós. Mas quem tem de educar a minha filha são os pais. Os avós servem para mimar e para apoiar sempre que necessário, mas não se pode ter filhos a pensar que os avós os criam. No meu caso a questão não passa mesmo de todo por qualquer dificuldade financeira, felizmente. Mas sim pela falta de tempo a que a sociedade actual nos levou.
Nao falei em criá-los. Quem cria o meu sou eu e o meu marido.Mas ele tem que ficar com alguem enquanto trabalhamos!! Prefiro que fique com as avós, fica melhor e nós poupamos…era nesse sentido.
Ai ser eu a cuidar dele 24h por dia,era espetacular e tinha um carradão deles… nao posso infelizmente! 🙁 Mas a pensarmos assim, a humanidade extingue-se! Antigamente os pais emigravam e deixavam cá os miudos com os avós. A avó do meu marido “deu” uma das filhas à irmã para esta a criar, porque a irmã não tinha filhos e ela tinha muuuuiiitos!! A sociedade hoje em dia tem falta de tempo sim, mas também complica muito. E é por isso que a nossa sociedade 8ocidental) vai acabar um dia!!
Acrescento a isso o facto da realidade actual ser que os avós já não têm a disponibilidade que antes tinham. Os avós agora também trabalham, em alguns casos com horários iguais ou piores do que os dos pais.
Estou agora grávida do primeiro e também já me aflijo com a questão do tempo!
Há uma licença que se pode tirar além dos 5 meses a 80% que é de mais 3, esses 3 a 25% mas coloca-se logo a questão: “e vê lá a evolução profissional”. e a hipótese da licença a 2 anos sem vencimento, também prevista na lei, seria logo um suícidio profissional!
É precisamente isso. No meu caso, os 4 avós trabalham, ou seja, aquela história do estar com os avós ao invés da creche nem se coloca. E, mesmo assim, posso dar-me por felizarda porque com muita logística e licenças de trabalho, conseguimos que as avós ficassem com ela em casa até aos 15 meses.
Não conheço tanta gente com tal sorte, mas lá está, elas substituíram a creche. Não podem substituir os pais.
Um beijinho
Também sei que isso é verdade. Sei que sou uma sortuda nesse sentido. Mas devo dizer que conheço gente também com essa sorte e que não a usa, daí o meu comentário.
Filipa, se os 5 meses forem divididos entre a mãe e o pai, é pago a 100%, mas só se for dividido, até pode ser 4 meses para si e 1 mês para o marido, já dá os 100%. Ligue para a segurança social e informe-se bem. Eles demoram a atender, mas são super atenciosos, comigo foram!
Olá Sílvia,
Obrigada pela informação.
Os 5 meses que falei são só os meus, a 80%. O mês do pai, será a 100%. No entanto, existe a possibilidade de cada um dos pais tirar mais uma licença de 3 meses cada um (em separado) a 25%. Mas, em termos profissionais, é logo questionada a “evolução profissional”!
Obrigada,
Beijinho,
Filipa
Ah, e muitossss PARABÉNS!!!
Obrigada 😀
Até lá… vai treinando ahaha 😉
Também gostava de ter mais do que um.
http://www.prontaevestida.com
É o desespero da maior parte dos pais.. Eu tive de prescindir do ginásio, e mesmo assim pouco tempo tenho para ela e para fazer as coisas que preciso em termos profissionais em casa! Mas também queremos o 2o!
Acho que grande parte do problema está em não estarmos nem habituados nem conscientes que a vida é feita de escolhas, queremos tudo, o melhor de todos os mundos . Não se pondo a questão do dinheiro, que neste momento económico “fantástico” não havendo é realmente uma limitação muito grande, tudo o resto são questões que temos de ir gerindo conforme as nossas prioridades. Desde que a Helena nasceu o “meu” tempo diminui consideravelmente e se tiver o segundo claro que vai ser ainda mais diminuto mas sei que é uma opção que quero tomar, quando acontecer não posso desesperar ou frustrar por ter escolhido conscientemente. Do mesmo modo sempre foi ponto assente para mim que tendo o básico assegurado os filhos seriam prioritários em relação a qualquer carreira, qualquer profissão que pudesse ter. Neste momento o meu objectivo é construir uma forma de, no caso de ter mais filhos, ser uma mãe sempre presente e isso implica começar muita coisa do zero.
Realmente parece que nos tornamos demasiado egoistas para ter filhos. Eu tenho dois e só me arrependo por vezes de não ter tido o terceiro. Sou tão sortuda que tive um casal. Ela hoje tem 19 e ele 15. No primeiro ano da minha filha e porque não sou de Lisboa, a minha mãe veio tomar conta dela (claro que teve que meter licensa sem vencimento) Acho que nunca lhe irei pagar esse carinho. Mas ao fim de 8 meses eu e o meu marido fizemos a escolha de me tornar mãe a tempo inteiro. Como é que consegui viver só com 1 salário? Fazendo as escolhas certas. Não viajava, não comprava coisas de marca, etc, tudo o que considero superfulo. Até hoje sou mãe a tempo interio e considero-me a pessoa mais feliz do mundo. Claro q por vezes não é fácil pois as mães trabalhadoras olham para nós como umas dondocas. Mas enfim cada um faz as escolhas que quer e que pode e deve ser respeitado por isso.
Isabel
Infelizmente não posso dizer o mm… ; ( amava ter outro filho, ando com uma vontade disso mesmo que me mata pq não pode ser, e pq? Dinheiro… falta esse malfadado. A minha L. é da idd da sua e gtava tanto mas tanto de lhe dar um irmão ou irmã mas não sei se será possível. No entanto, concordo com praticamente td o que disse pq o tempo esse sim vale ouro… um bjinho grd para as 2 :*
Aqui por casa ainda esperamos a decisão da chegada do primeiro filho. Já fiz 30 e começa a pesar-me… toda a gente diz que vou muito a tempo mas, tal como tu, pretendo ter mais do que um filho. Porque digo sempre aos meus pais que a minha irmã foi o melhor presente que me podiam ter dado… e ela é o meu porto de abrigo, a minha melhor amiga, a pessoa que me conhece só de olhar para mim.
Tudo a correr bem 🙂 Beijinhos
A vida não me deu filhos, mas deu-me três irmãos maravilhosos que amo mais do que tudo. Não consigo imaginar a minha vida sem eles. Por isso, se um dia tiver filhos, queira o destino que possa ter pelo menos dois. E como se diz, o amor não de divide, multiplica-se, certo? 🙂
Eu resolvi logo o assunto… com os 2 piquenos que me saíram na rifa não tenho que me preocupar em… “Gostava de ter outro filho, mas o dinheiro, mas o tempo, …”.
Acho que muitas vezes criamos demasiados problemas e fazemos filmes exagerados. Claro que concordo que a falta de dinheiro e a falta de tempo condiciona muito, claro que sim, mas… e se saírem logo 2 (ou mais) de uma só vez? Adaptamo-nos claro. E ficamos muito felizes por isso. 🙂
Sempre achei que o meu filho iria ser filho única e depois? a surpresa. E agora não abdicaria dos meus dois por nada neste mundo e o terceiro? nunca mais direi nunca 🙂 mas não estou a pensar nisso.
(e sim, não faças contas ao dinheiro, faz sim contas ao que recebes em troca e o tempo? acredita que estica e sim, há escolhas possíveis e viáveis sem termos de tirar tempo a nós mesmas).