Dana-me esta crise.
Dana-me que por mais que tente encarnar esse papel autista, com o seu quê de apatia, acefalia, inconsciência, cegueira e surdez, não a consiga ignorar (sim, a crise).
Dana-me a pobreza. Dana-me já não poder dizer que me dana, acima de tudo, a pobreza de espírito. Aquilo que me dana mesmo é essa pobreza que dá fome e que engrossa as filas nas associações de caridade, nas paróquias e nas igrejas.
Dana-me este sentimento de receio que me quer controlar. Dana-me o desgaste que me provoca este self control para que o receio não me controle. Dana-me esta redundância incongruente e inconsequente.
Dana-me ter as minhas decisões condicionadas pelos cilícios invisíveis (e que de sacrifício voluntário nada têm) desta crise. Dana-me não decidir porque sim. Dana-me decidir porque não.
Dana-me.
E dana-me assim para lá de muito não ser capaz de dizer “Dane-se! Se os mendigos não se danam, por que hei-de eu ter o direito de me danar.”
Como te compreendo Vanessa! Também ando danada!!!
Dano-me juntamente contigo. Beijinhos muito grandes
Se os mendigos não se danam é talvez porque a crise a eles não lhes pode piorar a situação, pois afinal a situação deles já é muito má.
A mim esta crise também me dana.
Dana-me ver-me desempregada com o subsídio a terminar em poucos meses, e sem emprego à vista.
Dana-me os empresários aproveitarem-se desta crise para “explorar” os trabalhadores .
Dana-me realmente ver tantas pessoas a quem a maldita crise lhes está a alterar a vida por completo e alguns a passarem mesmo por dificuldades sérias.
É realmente chato andarmos a condicionar a nossa vida, a deixar de tomar decisões ou tomá-las pela negativa por causa desta crise.
Mas vamos acreditar que nada dura para sempre e portanto isto só pode vir a melhorar.
Até lá, espero que a crise não me dane a paciência. 🙂
Beijocas