Eu, Tu e os meus sapatos

Louca pela vida. Louca por ti. Louca por escrever. Louca por sapatos.

Berço de Ouro

Eu nasci em berço de ouro.

 

Fui a primeira neta de um avô que sempre quis mulheres na família. Teve a sorte de ter duas filhas e três netas. Quando as tinha ao seu redor era, com toda a certeza, o homem mais feliz do mundo. Gosto de acreditar que mesmo sem a Nídia cá, continua a ser feliz quando está connosco.

 

Fui uma neta mimada. Todos os mimos materiais que os nossos pais se recusavam a dar, eram prontamente oferecidos pelos avós. Que o faziam na categoria de avós babosos que se permitem mimar as netas até à exaustão. E ainda fazem.

 

Fui uma neta mimada. Sempre que tinha uma qualquer chatice, daquelas que para o pai resolver obrigava a uma descompostura, era aos avós que pedia socorro.

 

Fui uma sobrinha mimada. Com a titi-madrinha vi todas as estreias de cinema para crianças. Com a titi-madrinha tenho imensas fotografias das nossas visitas frequentes ao Jardim Zoológico. Com a titi-madrinha corri os parque aquáticos.

 

Fui uma sobrinha mimada. A titi-madrinha não me oferecia um livro nos anos. Oferecia-me a colecção inteira.

 

Fui uma sobrinha mimada. A titi-madrinha era a animação nas nossas festas de aniversário.

 

Fui uma sobrinha mimada. A titi-madrinha ia buscar-me à escola de surpresa semana sim, semana não. Para depois nos enchermos de torradas em frente à televisão ou de crepes no Fonte Nova.

 

Fui uma filha mimada. O meu pai ensinou-me que durante a semana se trabalhava e ao fim-de-semana é que se brincava e via televisão.

 

Fui uma filha mimada. O meu pai ensinou-me a ser viciada em puzzles e a adorar ler.

 

Fui uma filha mimada. Ao fim-de-semana o meu pai alugava vários filmes de desenhos animados para compensar as horas de estudo durante a semana.

 

Fui uma filha mimada. Ao sábado à tarde e ao domingo de manhã sentávamos-nos com o meu pai a ver documentários sobre a vida animal ou história.

 

Fui uma filha mimada. Como morava longe dos meus colegas de escola, nas minhas festas de aniversário o meu pai ia buscar e levar aqueles cujos pais não os podiam levar.

 

Fui uma filha mimada. Os meus pais acharam que a nossa saúde e o nosso corpo estava acima de qualquer outro “vício”. Em vez de nos oferecerem ténis de marca, garantiram que na primária já usávamos aparelho nos dentes.

 

Fui uma filha mimada. A minha mãe não esperou que, envergonhadamente, lhe pedisse para fazer a depilação pela primeira vez. Para comprar o primeiro soutien. Ao contrário do que vi acontecer com todas as minhas amigas, todas as etapas importantes na vida de uma menina foram prontamente antecipadas pela minha mãe. 

 

Fui uma filha mimada. A minha mãe ensinou-me como se faziam os bébés quando lhe perguntei. Tinha 5 anos. Quando depois da explicação lhe perguntei se era preciso estar casada, ela maravilhosamente respondeu: “Não. Só é preciso haver amor.”

 

Fui uma filha mimada. A minha mãe ensinou-me a acreditar em mim. A minha mãe ensinou-me a nunca ter medo. A minha mãe ensinou-me que só arriscando é que se vive.

 

Fui uma filha mimada. A MINHA MÃE ENSINOU-ME A SER A MULHER QUE SOU.

 

Sou uma irmã mimada. Tive, tenho e terei SEMPRE a melhor irmã do mundo.

 

A verdade é que eu não tenho a mania das riquezas.

 

A mania das riquezas têm os novos ricos.

 

E eu sou rica desde que nasci.

30 Discussions on
“Berço de Ouro”
  • Querida Me,
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    Querida Me, <BR><BR class=incorrect name="incorrect" <a>DEixaste-me</A> sem palavras, provavelmente foi o melhor texto que aqui deixaste (pelo menos o que mais me tocou!). És uma inspiração! E a resposta da tua mãe aos bebés? Perdoa-me, mas vou usá-la com o meu puto! <BR>De facto, assim só podes ser RICA! <BR><BR>UM beijo

  • Acho (sinceramente) óptimo que te sintas rica e feliz – era assim que todos nós nos deveríamos sentir.
    A única coisa que lamento é o egocentrismo e o narcisismo com que escreves e com que (eventualmente) vives; segundo o que dizes, tu e a tua família são sempre aqueles que sabem fazer as coisas da forma certa e mais correcta… Até podem ter sabido educar-te bem, mas esqueceram-se, certamente, de te explicar que tu não és o centro do mundo! O mundo tem muitos centros…

  • Adorei o texto.

    A verdade é que em muitas coisas que falas tb eu tive esses privilégios, e acredito que esse Berço de Ouro é melhor que muitos Berços de Ouro muito dourados!

    A minha mãe deu-me exactamente a mesma resposta quando perguntei como se faziam os bebés e se era preciso estar casada. Tenho um livro ( a verdade sobre os bebés que ela me deu quando mal sabia ler que espero um dia mostrar aos meus filhos).

  • /Eu não diria que foste uma filha, neta, irmã, ou sobrinha/afilhada mimada, mas sim que foste uma filha, neta, irmã, e sobrinha/afilhada muito feliz, uma riqueza única!!!! :))

    Beijinho grande!!! E as melhoras!!!

  • Muito real este texto. Muito consciente. Manias das riquezas têm os que nunca foram habituados a ser ricos. Seja essa riqueza material ou emocional.

    “Só é preciso haver amor” é perfeito.

    E tu mereces esse berço.

  • E o que descreveste, é a maior riqueza que se pode ter! 🙂

    As nossas raízes são a base de tudo aquilo que somos e que nos tornamos… é por isso que só podias ser uma pessoa bem formada como és!

    Beijoca

  • Prontos!!! Já chorei…
    Lembrei-me que também eu fui mimada, vou fazer um post sobre isso senão fica aqui uma lista imensa.
    Espero que não te importes.

    bjs
    SJ

  • Olá Me,
    Adorei o teu blog desde o primeiro contacto que tive através do blog da mini saia desde Junho passado, se não estou enganada, fiquei fã desde então.
    O nascer em berço de outro, não nos limita a ter a mania das riquezas ou não, os novos ricos é que têm a mania das riquezas?!
    Conheço pessoas que sempre foram ricas materialmente sem formação, e com a mania da grandeza, que nem sequer sabem respeitar o próximo, conheço pessoas ricas com formação e sem manias, e que sabem o que é o respeito pelo outro, assim como conheço também pessoas que vivem com muitas dificuldades financeiras e têm a mania das grandezas.
    Eu nasci num berço riquissimo de amor e afecto, nunca passei dificuldades, mas com muitos sacrificios os meus pais me deram o melhor que podiam e não podiam.
    Hoje cresci, e vivo uma vida privilegiada, graças ao meu esforço e do meu amorzão, tenho bons carros, boas casas, luxos que nunca sonhei ter, mas a mania das grandezas não mora aqui. Sou a Rita que sempre fui, e dou um enorme valor a tudo o que tenho, e a minha maior riqueza continua a ser a mesma de sempre saúde, amor , uma família linda, e o saber dar valor e respeitar as pessoas, hoje agradeço como sempre agradeci tudo o que tenho, continuo humilde e com os principios que os meus pais me transmitiram desde a infância.

    Beijocas e as melhoras, espero que fiques em forma rápido rápido

  • Olá, leio-a quase diariamente, mas mantenho-me silenciosa, no entanto hoje não me contive em relatar-lhe um episódio que tão bem retrata o seu texto.

    Quando o meu irmão tinha uns 5 anos, e ainda filho único, virou-se para o nosso pai e disse:
    – Pai, tu és o homem mais rico do mundo, não és?
    – Não filho, que ideia!
    – És, és, porque tens uma esposa como a mãe e um filho como eu!

    Aí o meu pai reconsiderou a resposta e deu o braço a torcer…

    Um beijo**

  • Ana,

    Obrigada pelo comentário.

    Na minha visão, parece-me que é normal que no *meu* blog, *eu* seja o centro do *meu* mundo…

    Eu escrevo maioritariamente sobre mim. Todavia, é natural que, sendo um ser humano “normal”, refira constantemente a minha família, amigos, colegas de trabalho…

    Mas faria sentido escrever em nome da minha família, do meu marido, dos meus amigos?

    Se assim fosse seria o blog *deles* e não o meu!

    Por fim, aproveito para agradecer o facto de vir mostrar que é possível discordar do conteúdo de um post ou do próprio blogger sem se ser mal educado.

  • como te entendo!

    felizmente não precisei de aparelho nos dentes 😉 mas nunca liguei ou invejei as marcas da moda, graças à educação que tive, às prioridades e valores que me transmitiram.
    ainda hoje estou-me nas tintas.

    beijos 🙂

  • Quando leio estes teus textos fico sempre tão feliz por ti, mas sempre deprimida por não ter sido assim comigo… Se tiver filhos, vou ser assim, para que eles tenham o que eu não tive.

  • Sim, uma das maiores riquezas é o respeito e nós tivemos essa sorte.

    Havia dias em que a minha mãe dizia que não sabia qual dos dois havia de castigar… a mim ou ao meu pai, tal era a cumplicidade nas asneiras.

    Claro não castigava nenhum dos dois e outras eram as vezes am que era o contrário: eu e a minha mãe pareciamos da mesma idade.
    Apredi a ler e escrever enquanto brincava às escolinhas com a minha mãe.

    A minha privacidade sempre foi respeitada e quando havia assunto sobre os quais eu não queria falar (eu sou de poucas falas e só consigo falar dos ‘problemas’ quando estou em vias de os resolver), eles respeitavam, mas faziam notar a presença deles e fziam-me sentir que não estava só!

    Sim, a minha maior fortuna são os meus Pais. E digo sem problemas que o meu Pai é o Homem da minha vida e… ele sabe tudo! Se o carro avaria, telefono ao meu Pai, se quero saber alguma coisa, telefono ao meu Pai…

    A minha Mãe, essa é a minha cozinheira preferida, a mulher modelo…

  • Este texto é lindo e tens toda a razão a maior riqueza é mesmo termos uma familia fantástica. É a melhor herança que podemos receber…

    Bjs e rápidas melhoras

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