À maioria de vós, não só quem me lê, mas a população em geral também, isto de que vos vou falar, deve literalmente passar ao lado.
Principalmente porque é distante. Porque tal como eu (antes de tudo acontecer) não pensava nisto. Não pensamos mesmo. Não sabia. Não tinha conhecimento.
A leucemia é uma moda. A sério. São os blogs. São as campanhas de solidariedade. São as reportagens.
Mas só se fala dos dadores. Das campanhas.
Ninguém se lembra “do resto”.
Ninguém se lembra das pessoas que estão a sofrer no corpo.
Das famílias que em vão e em silêncio sofrem desesperadas. Pela dor de quem sofre. Pelo sentimento de inutilidade e impotência. Pela falta de conhecimento de quem nos rodeia.
A leucemia é um cancro. Mas é diferente de todos os outros. Pela agressividade da doença. Pela agressividade dos tratamentos. Pela taxa de mortalidade. E só quem “está nisto” é que sabe. Quem está de fora não imagina sequer a malvadez que existe nesta doença.
E ninguém se lembra.
Sabem porquê?
Ninguém se lembra.
Esta moda que a leucemia agora é, efectivamente é excepcional para aumentar o n.º de dadores. Para de forma muito limitada “sensibilizar” a população.
Mas ninguém se lembra.
Ninguém se lembra que quem está a sofrer não precisa de ser lembrado constantemente.
E é o que esta moda tem feito.
Não me apetece chegar a casa todos os dias e ouvir dizer que o “Nani se tornou dador de medula”.
Que o “Figo doou umas chuteiras para angariar fundos para a APCL” (que faz um trabalho excepcional!).
Não me apetece. E é por isso que digo que ninguém se lembra.
Que não me interpretem mal a comunicação social, as figuras públicas que se associam a esta causa, a APCL. Mas no fim, ninguém se lembra que já é suficientemente mau viver esta doença. Não quero sentir-me rodeada por ela. Independentemente de já o estar.
Não quero que me lembrem. Não preciso que me lembrem. Porque é o primeiro pensamento que tenho ao acordar. E porque também é o último que tenho antes de adormecer.
Um grande beijo para ti!
MUAAAAAAAAAAAAAAAA
Beijo grande. A tua irmã precisa de toda a tua força.
Filipa
O nosso país é feito de modas (o nosso e os outros) mas pior que as modas é a necessidade que as pessoas têm de viver da desgraça dos outros! Enfim…temos muito que aprender.
Não sou nada de me sensibilizar "ao vivo" com certas coisas, porque acho que as pessoas já vivem a sua dor e não precisam de mais uma "dose". Mas ontem numa visita a uma obra acho que não me consegui conter, um dos nossos trabalhadores têm uma filha de apenas 6 meses que sofre de leucemia, que passa mais tempo nos hospitais do que em casa, que já faz longas sessões de quimio…mas é apenas um bebé…
(isto contou-me o director de obra depois dofuncionario pedir para sair mais cedo para ir buscar a filha ao Hospital pq a deixaram vir passar o fim-de-semana a casa!)
Fizeste-me pensar…
Eu tenho seguido o teu (se é que te posso tratar por tu) blog e devo desde já dar-te os parabéns pelo teu blog, gosto muito, acho que tens muito bom gosto.Quero também dar-te muita força a ti e à tua irmã, não vou dizer que sei pelo que passam, porque não sei.Mas sei que dias melhores virão com certeza.
Bjs.
Belo post!
Não concordo contigo, acho q é o facto de viveres tão de perto com a doença que te torna tão vulnerável a estas campanhas. Até pq há doenças com bem mais visibilidade e campanhas. As melhoras para a tua irmã.
Querida, fico sempre sem saber o que dizer, apenas que aprendo mais um pouco com a vossa experiência dolorosa, mas de certa forma enriquecedora, porque faz-nos ver a vida de outro prisma. Espero que venham melhores dias, e possas finalmente ver-te livre dessa moda.
Beijosssss
Compreendo-te muito bem e percebo o porquê da tua "revolta", pois o outro lado da doença é muito duro. Eu descobri que esta doença existia desde muito pequena, e senti a sua crueldade aos 7 anos.
Muita força nunca desistas, dá toda a força e carinho à tua irmã, dias melhores virão, vais ver!! Um grande beijinho para as 2